Em noite de destaques, Vila, Beija-Flor, Imperatriz e Viradouro na disputa pelo título
Por Luis Leite e Angélica Zago
A segunda e última noite de desfiles do Grupo Especial brindou o público com belíssimos espetáculos: comunidades cantando a plenos pulmões, inovação, conjunto alegórico, fantasias e adereços bem elaborados e diversas narrativas dando uma aula de história e cultura, com desfiles da Paraíso do Tuiuti, Portela, Unidos de Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro.
Paraíso do Tuiuti acertou a mão na parceria dos carnavalescos Rosa Magalhães e João Vítor Araújo que apresentaram o enredo: “Mogangueiro da cara preta”, com uma leitura fácil das alegorias e uma plástica bem acabada.
Wander Pires, completando 30 anos de carreira, conduziu ao lado do carro de som bravamente o canto. Porém, foi notório que as alas passassem com muitos integrantes sem cantar o samba. A evolução funcionou bem na maior parte do tempo, até abrir um buraco por causa da dificuldade em colocar na pista a última alegoria. A dupla de estreantes na Comissão de Frente, Lucas Maciel e Karina Dias, mesclou a apresentação no solo e no carro em duas equipes: a primeira parte representava búfalos encarnados, destacados pelo figurino, com saias que causavam muito efeito ao girar, e a maquiagem artística. A segunda parte atuava no tripé mostrando o carimbó.
Casal que vem se fortalecendo dançando juntos, Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane vieram com o figurino “Flor de Lótus”. A fantasia exibiu as cores da agremiação. Eles trouxeram referências da dança indiana para a performance. Um ponto negativo, por causa do vento, aconteceu com Ventapane que teve dificuldades em desfraldar a bandeira em algumas cabines julgadoras.
A bateria SuperSom, no comando do renomado mestre Marcão, sacudiu a Sapucaí com as bossas fazendo menção ao carimbó.
Com um bom desfile, a comunidade do Tuiuti encerrou a sua apresentação aos 67 minutos.
Portela
Antes de o cronômetro marcar o início do desfile, segunda escola a pisar na Sapucaí, a Portela fez um show pirotécnico, com fogos e drones, que de forma sincronizada, escreviam os nomes de baluartes e desenhavam uma águia, símbolo da agremiação. Uma entrada impactante que foi ovacionada pelo público.
Porém, a escola apresentou diversos problemas ao longo da avenida, carro alegórico, comissão de frente, evolução, casal de mestre-sala e porta-bandeira, dando adeus ao título de campeã no ano do seu centenário. O enredo desenvolvido por Márcia e Renato Lage acontecia em 5 atos: Paulo da Portela, Natal, Monarco, Tia Dodô e David Corrêa.
Comandada por Léo Senna e Kelly Siqueira, a Comissão de Frente encenou “Como tudo começou” que mostrou uma inspiração poética. No segundo módulo de jurados, um dos integrantes não conseguiu subir em cima da águia, não concluindo com êxito a exibição. Na sequência de pontos negativos, a porta-bandeira Lucinha Nobre teve dificuldade com a peruca em dois jurados. Em uma, Lucinha precisou dançar segurando o objeto, já na outra, passou sem. Apesar disso, conseguiram executar a dança mesclando bailado clássico e coreografia.
Dois carros apresentaram problemas, o apoio não estava conseguindo deixá-lo em linha reta, chegou a encostar na frisa, abrindo um buraco gigantesco, para o desespero dos portelenses.
Cara da Portela, o intérprete Gilsinho se exibiu perfeitamente, mas diante de tantos percalços, os brincantes desanimaram um pouco.
Com tantas intercorrências e um desfile mediano, a Portela fechou o desfile faltando 1 minuto para estourar o tempo.
Vila Isabel
A Unidos de Vila Isabel, sem causar muito bafafá no período pré-carnavalesco, chegou à Sapucaí com sede de título. A terceira escola a desfilar contou com a volta do carnavalesco Paulo Barros, muito criticado na época, para desenvolver o enredo: “Nessa festa eu levo fé”. Paulo fez várias inovações e brindou o público com um excelente desfile.
Com muitos pontos altos a serem ressaltados, inovação com a troca de roupa do casal, as esculturas vazadas, o desfile do rei Momo no meio da ala foram alguns dos destaques. A voz potente do intérprete Tinga foi outro fator a se destacar. Ele que começou a fazer preparação vocal, passou o recado durante todo o desfile, colocando todo mundo para sambar do início ao final.
Já Cris Caldas e Marcinho Siqueira, primeiro casal da Vila, ostentaram um bailado moderno, com movimentos sincronizados com a bateria de mestre Macaco Branco, que também deu um show na avenida com bossas fazendo menção a um arraiá.
A Vila Isabel, com uma apresentação surpreendente e de alto nível, encerrou o desfile dentro do prazo regulamentar.
Imperatriz
Em seguida, o carnaval esperado da Imperatriz Leopoldinense, sob o comando do carnavalesco do Leandro Vieira, desenvolveu o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida” com uma estética perfeita, expondo muitas cores, texturas e leveza.
Apesar da fama de ser uma escola técnica, a agremiação passou brincando o carnaval, mas de olho nos quesitos. Estreante na escola, o intérprete Pitty de Menezes fez uma excelente exibição, merecendo destaque junto com o desempenho da bateria de mestre Lolo, uma verdadeira explosão na avenida, trazendo zabumba, triângulo e sanfona, nas bossas do xote e do xaxado, já usadas no ensaio técnico.
O mestre-sala Phelipe Lemos voltou a fazer par com Raphaela Theodoro. Vestidos de Lampião e Maria Bonita, a dupla, com uma indumentária luxuosa na tonalidade laranja, se movimentou com uma saia com muitas penas de faisões. O casal apresentou uma dança com mais vigor.
Depois de alguns longos anos na Beija-Flor de Nilópolis, Marcelo Misailidis, coreógrafo da comissão de frente, exibiu um teatro mambembe, muito bem executado e com muito humor.
Beija-Flor
A penúltima escola da noite, a Beija-Flor de Nilópolis, desenvolveu o enredo “Brava gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”, desenvolvido por André Rodrigues e Alexandre Louzada. Eles exibiram uma agremiação com uma estética imponente, bonita, mas com algumas falhas de acabamento. O tema abordou reivindicações e colocando em pauta os povos invisibilizados como negros, mulheres, indígenas e LGBTQIA+.
Um susto ainda na concentração, que foi rapidamente resolvido, não ofuscou o brilho da escola. Um dos carros pegou fogo na parte superior, entretanto os bombeiros agiram rápido e ninguém se feriu.
A segunda escola a utilizar a luz como elemento integrante da comissão de frente, os coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon contaram uma cena clássica da história da Independência do Brasil. Para isso, a escola contratou um profissional específico para fazer esse projeto. Durante a performance, apagaram-se as luzes da Sapucaí e uma luz especial focou na comissão que projetou algumas imagens em cima do tripé. Enquanto isso, os soldados faziam algumas coreografias bem sutis, dando um toque complementar. Eles contaram a narrativa de um povo que luta por igualdade e protagonismo na história.
O veterano casal Selminha Sorriso e Claudinho, com mais de 30 anos de carreira, usou uma indumentária rica, nas cores da agremiação, personificando o “Encantamento Caboclo”. Os dois exibiram uma dança clássica e leve.
Uma comunidade acostumada a ensaiar muito e cantar exaustivamente, repetiu a dose na Passarela do Samba com a obra dos compositores Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira, Julio Assis e Diogo Rosa, sob a condução brilhante de Neguinho da Beija-Flor, Jéssica Martins e a estreante Ludmilla, que arriscou alguns cacos.
Emocionada com a estreia, Lorena Raíssa, a nova rainha de bateria da Soberana, brilhou nesse primeiro carnaval.
Viradouro
A última escola a pisar na Sapucaí, a aguardada Unidos do Viradouro faz a sua função de escola de samba. Ela trouxe uma temática desconhecida do grande público: o enredo sobre “Rosa Maria Egipcíaca”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A Viradouro apresentou um desfile tecnicamente perfeito, plástica perfeita, escola bem vestida, ótimo acabamento, canto, bateria e evolução em sintonia.
Com muita história para contar, Priscilla Motta e Rodrigo Neri, conhecidos como o casal secreto, trouxeram um dos trabalhos mais incríveis deste carnaval, se não o melhor. Através da visão profética da menina Rosa Courá, a comissão passou por diversas fases da vida de Rosa Maria, recriando seu destino à glória. As partes mais emocionantes aconteceram em cima do tripé, com representação e muita dança.
Ruth Alves e Júlio Nascimento, primeiro casal da escola, muito bem vestidos, mesclaram movimentos na dança que unem elegância e vigor.
A comunidade gritou o samba do setor 1 à dispersão, evoluindo sem demonstrar nenhum cansaço, apesar do avançado da hora. Uma das características desta atual Viradouro é que a agremiação traz alas com maquiagem artística, complementando uma fantasia impecável.
Destaque para o carro de som conduzido por Zé Paulo Sierra que tem se superado a cada ano. Além da parte vocal, ele vem como uma caracterização que coloca o nível da apresentação da escola no topo. Mestre Ciça, que alia coreografia junto com o ritmo, fez uma dupla imbatível com a turma do canto, tanto que ao longo da avenida o intérprete chamava por ele. Um desfile com quesitos muito bem elaborados, a escola encerrou a exibição dentro do prazo de 70 minutos.