Maneco: ‘Vocês não sabem fazer carnaval. Eu sei fazer tudo!’

Maneco: ‘Vocês não sabem fazer carnaval. Eu sei fazer tudo!’
Hélio Baraçal Grande

Por Ricardo Maia

Neste 23 de julho, quero homenagear uma lenda do carnaval que nos deixou em 2013, vítima de um câncer. Se estivesse vivo, hoje ele completaria 79 anos. Estou falando de Hélio Baraçal Grande. Provavelmente poucos saberão de quem se trata, porém se falarmos de Maneco, fundador do Grêmio Recreativo Escola de Samba Difícil é o Nome, é presumível que muitos lembrarão de histórias lúdicas desse amigo, que se autointitulava “baluarte”.

Maneco durante o desfile da
Difícil é o Nome

Hélio fundou o bloco que desfilava pela Rua Glaziou, no bairro de Pilares. Um belo dia, um professor, amigo e desfilante afirmou: “Esse bloco tem tudo, só falta um nome”. Daí surgiu o “Difícil é o Nome”. Estava batizado o bloco que, em 1989, veio a se transformar em escola de samba.

Naquele ano, a Difícil é o Nome conquistou o terceiro lugar no Grupo de Avaliação, subindo para Av. Rio Branco, onde ficou por três anos e depois ascendeu ao Grupo de Acesso da Sapucaí.

Maneco, com seu jeito amigo, malandro maroto, contava sempre com a ajuda dos amigos do bairro e familiares para conseguir recursos para fazer o desfile da escola, principalmente de sua mãe, uma guerreira, que todo ano passava o “livro de ouro” entre os comerciantes do bairro, e por isso era venerada por ele. A luta, no entanto, era ainda maior, porque a população de Pilares considerava a Caprichosos como a escola do bairro, rendendo dessa forma para a Difícil o papel de “segundo plano”.

Maneco era advogado e assessor parlamentar, tinha um jeito todo peculiar de transportar o material para a confecção de fantasias e alegorias do Centro para o barracão. Ele mantinha um fusquinha de fabricação da década de 60, onde fazia todo o transporte dos tecidos, galões, arames, em fim todo o material. Uma outra curiosidade é que ele não mantinha o fusca regularizado, e quando uma blitz apreendia o seu carro, ele o deixava no depósito do Detran e comprava outro.

Um dos fuscas que Maneco transportava o material do
Centro para o barracão

Certa vez, ele tentou resgatar um dos fusquinhas apreendidos durante um leilão, mas surpreendentemente apareceu outro comprador que começou a dar lances altos no veículo. Maneco se irritou e disse: “Amigo, o carro é meu, dá para você parar de dar lance”. Mas o concorrente levou o carro. O tempo fechou e quase que a porrada comeu no depósito do Detran.

Em outra ocasião, Chiquinho, do Babado da Folia, estava mudando de loja e perguntou ao Maneco se ele poderia transportar alguns materiais, porém pediu para que ele fosse com um caminhãozinho, porque era muita coisa para carregar. Quando chegou o dia, Chiquinho indagou: “Cadê o transporte?”. Maneco respondeu: “Está lá fora”. Os funcionários de Chiquinho deixaram a calçada lotada de coisas. Aí o Chiquinho chamou os garotos e os orientou para colocarem no caminhão.

– Mas Seu Chiquinho, não tem nenhum caminhão lá fora, não. – comentou um dos empregados.

– Maneco, cadê o caminhão? – perguntou Chiquinho.

– Que caminhão? Coloca no fusca. – respondeu Maneco.

– Maneco, você está de sacanagem, não vai caber.

Ele tirou todos os bancos do carro e deixou somente o dele. E coube tudo dentro do fusca (risos). Maneco ainda brincou:

– Tem mais alguma coisa, Chiquinho?

– Não.

No carnaval de 1995, o ex-carnavalesco Fernando Pamplona comentou, durante a transmissão pela extinta TV Manchete daquele ano, que o Sol não havia brilhado para a Difícil é o Nome, em razão de que a escola não fez um bom desfile ao levar para a Avenida o enredo “A grande estrela, o Sol”. Isso irritou Maneco, que começou a xingá-lo ao vivo. Precisou da intervenção de Jorginho do Império para conter o presidente apaixonado.

Essa paixão se refletia no barracão da escola. Todo o mundo gostava dele, porque o que o Maneco tratava, sempre cumpria. Por outro lado, ele brincava com os empregados, chamando-os de “mortos de fome”. Quem não o conhecia, achava aquilo agressivo, mas na verdade se tratava uma forma carinhosa de tratar os trabalhadores da agremiação.

O atual presidente da Difícil é o Nome, Baraçal Júnior, sobrinho do Maneco, comentou que o tio era mais famoso do que a escola, e os seus ensinamentos foram referência para os atuais profissionais, sobretudo os do barracão: “Hoje em dia, tenho todos os profissionais querendo trabalhar comigo por causa dele (Maneco) e mantenho esse legado de confiança e responsabilidade”.

No carnaval de 2012, a Difícil contava com três sambas na final. Maneco queria que o samba número dois fosse o vencedor, todavia a escola apoiava o samba um. Para ter vantagem na votação, Baraçal colocou o irmão José Baraçal Grande e o sobrinho Baraçal Júnior para votarem, completando o júri com o diretor de Harmonia, coreógrafo e o mestre da bateria.

Só que na hora da votação, o irmão do Maneco disse que iria votar no samba três: “Eu vou votar no samba três. Ele é do meu amigo; gostei desse samba”. Maneco ficou bravo e disse que o irmão só sabia atrapalhar.

– Calma, Maneco. Qual é o teu samba? – indagou José Baraçal.

– O samba dois. – respondeu Maneco enfurecido.

– Pronto! Empatou! O voto minerva é teu.

Resultado final: 4 x 3 para o samba dois! A chapa esquentou e todo o mundo saiu da escola esbravejando.

Hélio Baraçal Grande só não sabia sambar, porém sabia tocar todos os instrumentos, cantava muito bem e em razão disso, dizia com orgulho: “Vocês não sabem fazer carnaval. Eu sei fazer tudo. Sou baluarte”. Além disso, o dirigente também era muito disputado nos campos de futebol de Pilares. Era um craque.

Homenagem da Difícil é o Nome a um dos seus fundadores

Outra paixão eram os balões. Baraçal tinha sua turma de baloeiros até o dia em que um de seus balões quase causou um grande acidente no bairro. Ali, aos 40 anos, ele resolveu parar com essa atividade perigosa.

Quero deixar aqui meu desejo de muita luz e paz para esse sambista querido, que deixou sua história gravada na Difícil é o Nome, no carnaval e em nossos corações.

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