Luiz Roberto Ferreira, o Roberto Gaguinho da Frigideira 

Luiz Roberto Ferreira, o Roberto Gaguinho da Frigideira 

Por Luis Leite

Fotos: Arquivo pessoal

Nascido em Porciúncula, no estado do Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ferreira, o Roberto Gaguinho, chegou à Cidade Maravilhosa com 6 meses de idade. Foi criado na Praça do Carmo, na comunidade da Fé, e hoje, aos 52, mora no Méier.

Gaguinho é administrador de empresas, formado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Gestão Empresarial. O torcedor do Império Serrano, nesta entrevista, conta a sua história de ritmista, desde quando ele, seus irmãos e colegas criaram alguns instrumentos, com latas de tinta ou de óleo de 20 litros.

OBatuque.com – Quando começou a perceber o dom de tocar um instrumento de escola de samba?

Roberto Gaguinho – Quem é criado no subúrbio escuta vários gêneros musicais desde pequeno, mas o samba predominava naquela época. Em frente à casa de meus pais havia uma roda de samba todo fim de semana, tocavam, cantavam e versavam o tempo todo, até o amanhecer. Aqueciam o surdo com fogueira de jornal. Aquele ritmo, aquelas letras me emocionavam. Eles tocavam muito samba-enredo, até sonhava com a batida de surdo e do tamborim. Eu, meus irmãos e colegas criamos alguns instrumentos, com latas de tinta ou óleo de 20 litros, retirávamos o fundo e amarrávamos o papel de embrulho com barbante na boca das latas e aquecíamos no fogo, aquilo era o máximo.

Com o passar do tempo todos tocavam algum instrumento, eu tinha uma paixão pelo repique, até que comprei um. Logo, compramos vários instrumentos formamos um bloco, batucávamos no futebol, em comemorações durante todo o ano, até que um grande amigo e padrinho da noite, Zé Carlos, me chamou para ir ao samba no Império Serrano, foi um grande presente para minha vida. Após algumas cervejas, ele me levou até a entrada da bateria e insistiu para que me deixassem tocar tamborim. Após este dia fiquei viciado em tamborim, ganhei um do Robertão, e só no Império, foram 23 anos na bateria, alguns ritmistas presentes naquele dia são meus amigos e desfilamos juntos até hoje.

OBatuque.com – Qual o instrumento que você mais gosta?

Roberto Gaguinho – A frigideira. No final dos anos 90, observamos que o ritmo precisava ser mais agudo. Após uma boa experiência na Imperatriz em 2001, com frigideiras velhas e enferrujada eu, Júlio, Mauricio, João Malaquias e Márcio Careca formamos o primeiro grupo de frigideiras no Rio de Janeiro, chamado de Arame Farpado, pois diziam que era ruim de atravessar! A exigência era tocar no padrão floreado, toque de corte chamado na época, padrão adaptado ao tamborim do Império Serrano, nos anos 80: o toque 2×1, já que e o 3×1 era proibido, pois desvalorizava e não somava ao ritmo. Era notório que precisávamos melhorar a sonoridade das frigideiras, pois eram obsoletas e não existiam no mercado, até que o João Maluco, famoso afinador da época, nos emprestou uma frigideira feita na Marinha. Uma bela peça com uma sonoridade jamais vista. A partir daí, passamos a ter a peça padrão. Decidimos fazer as frigideiras; rateamos a chapa de aço; o Marcos Martins comprou, cortou e soldou várias peças; o gênio Mauricio adaptou uma bola de aço na ponta da baqueta como revestimento. Foi um sucesso! Hoje, a família das frigideiras é formada por Júlio, Mauricio, Roberto Gaguinho, João Malaquias, Márcio Careca, Zé Luís, Márcio e Marcos Martins, Bordallo, Mirian, Breno, Hugo, Matheus, Mônica, Henrique, Papaco e Marcelo.

OBatuque.com – Como você avalia as bossas e paradinhas atuais. Elas atrapalham ou ajudam, na sua opinião?

Roberto Gaguinho – São raras as bossas que realmente somam e ajudam no desfile. Estão fazendo bossas por disputa e desprezando o bom ritmo. Presenciei até oito bossas para escolher três ou quatro, pois o tempo para a cabine do julgador é curto. Tive o prazer em desfilar em escola, onde a bossa levantava arquibancada, ajudando a ganhar títulos. As bossas podem ajudar se forem casadas e comprometidas com a melodia do samba e sem prejudicar o andamento e o ritmo do desfile.

OBatuque.com – Por quais escolas de samba você desfilou como ritmista?

Roberto Gaguinho – Império do Futuro (02), Império Serrano (22), Mocidade Independente (9), Imperatriz (19), Beija Flor (15), Portela (2), União da Ilha (6), Vila Isabel (2), Tuiuti (2), Rocinha (14), U. da Tijuca (2), Império da Tijuca (3), Mangueira(1), Renascer de Jacarepaguá (05), Cubango (4), U. Padre Miguel (2), Vizinha Faladeira (2), União de Maricá (2), Em Cima da Hora (3), Unidos do Cabuçu (14), Lins Imperial (3), Engenho da Rainha (4), Caprichosos de Pilares (9), Difícil é o Nome (2), Acadêmicos da Praça da Bandeira (1) e União de Jacarepaguá (2).

OBatuque.com – Desses, qual foi o desfile impecável da bateria?

Roberto Gaguinho – Desfile impecável e inesquecível de bateria foram: Mocidade, com Vira Virou; União da Ilha, com Maria Clara Machado; e Beija-Flor, com Sete Povos das Missões. São tantos…

OBatuque.com – Atualmente qual a agremiação você desfila como ritmista?

Roberto Gaguinho – Gosto de desfilar em várias escolas, tenho desfilado nos últimos anos na Renascer de Jacarepaguá, Vizinha Faladeira, União de Maricá e Beija-Flor de Nilópolis. Em 2018, não pude ensaiar e só desfilei na Renascer, Vizinha e União de Maricá.

OBatuque.com – Qual foi a paradinha que você mais gostou de todas as que você participou?

Roberto Gaguinho – São muitas. A que mais gostei e penso que ajudou no título, foi na Mocidade, com o enredo Vira Virou, que levantou as arquibancadas em todos os setores.

OBatuque.com – Se você fosse mestre, qual seria a formação ideal para sua bateria?

Roberto Gaguinho – Formação ideal: cuícas, tamborins, cozinha com terceiras soltas e caixas tocadas em baixo, frigideiras no corredor central, chocalhos fechando a cozinha. A bateria a meu ver ficaria equalizada e bem distribuída. Detalhe importante, com andamento 144 bpm, na minha opinião o ideal para tocar, sambar e curtir o ritmo.

OBatuque.com – Um diretor de tamborim?

Roberto Gaguinho – Sérgio Maurelli, o melhor diretor de tamborins de todos os tempos. Desenhos dentro da melodia do samba, esse cara é referência. Os atuais, em sua maioria, não respeitam a história muito menos o instrumento, deixam muito a desejar dentro da avenida. Gosto de chamá-los de sem referência, não são humildes, são diretores sem ter amadurecimento de avenida, de samba e de relações interpessoais.

OBatuque.com – Projetos para o futuro em relação a profissão de ritmistas?

Roberto Gaguinho – Já formamos vários grupos de ritmo, mas sem interesse comercial ou profissional. Vejo como hobby, entendo que cada vez mais tenho a obrigação de difundir, incentivar, fazer grandes amizades, socializar e resgatar pessoas através do ritmo. Admiro muito o músico profissional oriundo de nossas baterias, inclusive indico vários grupos nossos de samba para festas e eventos.

OBatuque.com – Suas considerações finais?

Roberto Gaguinho – Quando pequeno, achava o máximo a escola ser campeã. O ritmista dava o sangue pela escola e passava como campeão, colocava a faixa, desfilava nos bairros de fantasia como era em Madureira, com o Império e a Portela. Sonhei muito em ser um ritmista e desfilar como campeão. Graças a Deus realizei esse sonho muitas vezes. O samba e o ritmo foram grandes presentes que recebi de Deus. O samba me deu grandes amigos, me deu luz quando estava em caminhos obscuros, me abriu muitas portas, até emprego eu arrumei no início da carreira. Tenho muito a agradecer a grandes sambistas e, em especial, Márcio Russo, Zé Carlos, Robertão e Márcio Martins. Eu como sambista e ritmista digo a todos: “Vamos usar o samba para construir, fazer amizades, ajudar e até recuperar pessoas!”. Nós podemos, através da arte do ritmo, dar luz e quem sabe, um mundo diferente a muitas pessoas, eu acredito.


    

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