Exu abriu as portas para a Grande Rio, e a escola desmistificou Exu

Exu abriu as portas para a Grande Rio, e a escola desmistificou Exu

Por Wander Timbalada

Só o carnaval carioca tem o poder de nos presentear com grandes acontecimentos apresentados nessa mágica Passarela do Samba, chamada Marquês de Sapucaí. E o que venho falar para você, faz parte dessa história escrita pelas maravilhosas escolas de samba.

Neste ano, o GRES Acadêmicos do Grande Rio, de Duque de Caxias, conquistou o título de campeã do carnaval carioca com o enredo “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu…”, de autoria de Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Na verdade, o tema veio desmitificar e quebrar as correntes do preconceito religioso diante desse orixá em suas diversas manifestações.

E assim abre os cadeados e as portas para o tão necessário e esperado esclarecimento à cerca das várias deturpações da sua verdadeira imagem e ação dentro do “sagrado” da nossa rica religião da cultura de matriz africana: Omoloko, Umbanda e Candomblé.

Mas essas conquistas não começam em 2022, não, a Acadêmicos do Grande Rio começou a escrever essa história em 1992, com um viés voltado à cultura africana por meio do fantástico enredo “Águas claras para um Rei Negro”, de autoria dos carnavalescos Lucas Pinto e Sonia Regina, com um dos melhores sambas-enredos dos anos 90, assinado pelos compositores G. Martins, Adão Conceição, Barbeirinho, Queiroz e Nilson Kanema.

O trecho do enredo dizia: “Foi a hora de seguir com fé e pedir axé para o Deus maior, porque para ser livre, nunca é tarde demais, onde há fé e esperança a crença não se desfaz”. Daquele ano em diante, a Grande Rio selou de vez o seu passaporte para fazer parte da elite do carnaval carioca, permanecendo no Grupo Especial até o seu triunfante título de 2022. A força latente dos Deuses africanos abençoou a escola, que teve bravura, competência e determinação para lutar para vencer.

Foram 30 anos em busca de um título no Grupo Especial e outra vez recorrendo a essas forças magníficas, a escola chegou à tão sonhada e desejada vitória, que desmitificou também, de uma vez por todas, a verdadeira imagem de Exu, que durante muitos anos foi erroneamente passada para as pessoas como uma figura relacionada ao Diabo, coisa que não é verdade. Esse equívoco foi usado pela Igreja Católica durante muitos anos, sem ter uma defesa do “povo do axé”, dando às devidas explicações e esclarecimentos sobre isso.

Exu, orixá da dinâmica da vida, o grande mensageiro, o senhor que abre as portas e os caminhos, a boca que tudo come e o primeiro a comer, responsável pela sensualidade e pela jovialidade, o apaziguador das relações e o grande formador de opiniões.

Bem, se não era de conhecimento de todos, a partir de agora será de conhecimento de muitos, que o Cristianismo moldou a figura do Satanás para combater outras religiões. Alguém escreveu torto por linhas direitas propositalmente para desconstruir uma imagem e construir outra.

De acordo com as escrituras sagradas da Bíblia antiga, fala-se sobre Moisés e os cornos de Deus. O Deus do Antigo Testamento, conhecido por Yahveh ou El, foi por diversas vezes retratado como o possuidor de cornos e outras qualidades mitológicas. A maioria das traduções do antigo testamento tenta esconder estas qualidades, pois não reconhecem um Deus invisível, Criador do mundo.

Falemos então, inicialmente de Balaão, um profeta que tem por conceito e visão um “Deus que é um Touro de Guerra. Balaão é reconhecido como um admirador especial das qualidades de Yahveh:

Números 22:23 (João Ferreira de Almeida)

*É Deus que os em tirando do Egito; as suas forças são como um boi selvagem.

Números 24:8 (João Ferreira de Almeida)

*É Deus que os vem tirando do Egito; as suas forças são como um boi selvagem; ele devora as nações, seus adversários, lhes quebrará os ossos e com a sua seta os atravessará.

Este personagem Balaão descreve o Deus dos israelitas com as qualidades de um Touro de Guerra.

Os cornos contagiosos: Moisés quando desceu do Monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, por haver Deus falado com ele (…) assim, pois os filhos de Israel, ao ver resplandecido o rosto de Moisés, cobriam-no com um véu ao entrar para falar com Deus.

*O tradutor, neste caso João Ferreira de Almeida, trocou os cornos por resplandecimento.

Noutras traduções aparecem “raios de luz”, mas na tradução para o latim – a Vulgata Latina do Século IV – os cornos ainda eram visíveis no texto.

Êxodos 34 :29-35 (Vulgata Latina)

“Cumque dencederet Moses de monte Sinai tenebat duas tabulas testimonii et iginoradat quod cornuta esset facies sua ex consortio Semonis Dei (…) qui videbant faciem igredientis Mosi esse cornutam sed operiebat rursus ille faciem suam si quando loquebator and eos”.

É de suma importância fazer tais citações históricas, como forma de ligação direta com o Velho Testamento, para que se possa entender a relação do chifre de Exu, visto como demoníaco”.

Essa é a elucidação que com essa vitória do Acadêmicos do Grande Rio nos fez com que ficássemos muito tempo calados, mas chegou a hora de botar para fora o que nos entalava e nos defender, pois Exu não é o mal, e sim o bem que nos faz vencer.

Alupô Exu Bara, adake Exú, laroiê todos os Exus, alupandê aos ekurus e todo o povo de rua existente na Terra.

Asé Mojubá! Senhor Jader Soares e Acadêmicos do Grande Rio, titi kiniun yoo fini awon itan-akoole. Won itan ode yoo se ogo fum awon ode.

Tradução: Saudações, senhor Jader Soares e Acadêmicos do Grande Rio, enquanto os leões não tiverem seus historiadores, as histórias de caça glorificarão os caçadores.

Gostou na matéria? Dê o seu comentário.