Grande Rio e Imperatriz são destaques na primeira noite de desfiles do Grupo Especial 

Grande Rio e Imperatriz são destaques na primeira noite de desfiles do Grupo Especial 
Fotos: Diego Mendes/Divulgação

Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro e Unidos da Tijuca também brilharam na Sapucaí

Por Luis Leite e Angélica Zago

Seis escolas de samba marcaram a primeira noite de desfiles do Grupo Especial no Carnaval de 2024, com enredos inspirados em obras literárias e contos portugueses. Luzes cênicas, bolhas de nitrogênio, pulseiras de LED, rainha virando onça e bailarina flutuando no ar, esses foram alguns dos efeitos especiais utilizados na Marquês de Sapucaí. Contudo, nenhuma a agremiação extrapolou o limite de tempo estabelecido pelo regulamento. Acadêmicos do Grande Rio e a atual campeã Imperatriz Leopoldinense foram destaques entre as apresentações de domingo (11) e manhã de segunda-feira (12).

De volta ao grupo de elite após 11 anos na divisão de acesso, a Unidos do Porto da Pedra foi a primeira escola a pisar na avenida com o enredo “Lunário Perpétuo – A profética do saber popular”, baseado na história de um livro escrito em 1594 pelo espanhol Jerônimo Cortés, que reúne orientações sobre astrologia, agricultura, saúde, uso de ervas, bênçãos e cura.

A Vermelha e Branca de São Gonçalo que este ano investiu pesado, apresentou um desfile bastante grandioso na parte plástica, como a escultura enorme de um tigre alcançando 22 metros de altura do “pede passagem” emitindo sons de rugidos, além de fantasias repletas de elementos regionais.

A comissão de frente chamou atenção por trazer um tripé com imagens holográficas. No ápice da encenação, uma bailarina flutuava no ar utilizando técnica de suspensão capilar. De cor lilás, as baianas vieram iluminadas e cobertas de flores.

A escola enfrentou diversos contratempos em evolução e conjunto durante sua passagem, principalmente os carros com muita dificuldade ao fazer a curva para entrar na Marquês de Sapucaí ocasionando buracos na pista, inclusive a última alegoria chegou a bater em uma das grades de proteção próximo às cabines de rádio no setor 1 atingindo uma mulher.

Já o abre-alas teve a divisão traseira do adereço quebrado no momento em que passava na frente do módulo de julgamento, podendo perder pontos. Na reta final os componentes tiveram que correr para não estourar o tempo. Devido a tantos incidentes, agremiação se descredencia ao título.

Em seguida, a Beija-Flor de Nilópolis, trouxe o enredo sobre Maceió, tendo como fio condutor o personagem Rás Gonguila, um filho de escravizados que acreditava ser descendente da realeza etíope.

O carnavalesco João Vitor Araújo estreante no cargo, apostou em alegorias e adereços suntuosos e criativos. Porém nas fantasias, faltou entendimento nas mensagens carnavalescas com alas repetitivas. A escola também apresentou problemas técnicos com a montagem dos carros, prejudicando a evolução.

A terceira alegoria bateu no portão principal deixando duas estruturas danificadas e o quinto veículo travou antes de entrar na avenida abrindo um enorme espaço no setor 3. Em razão disso, corre o risco de ser penalizada por alguns décimos.

Um dos destaques foi a criatividade da comissão de frente, por trazer dez dançarinos vestidos de engraxates representando o homenageado, em que na performance formavam um pião humano, levando a plateia ao delírio. Outro momento marcante aconteceu quando os refletores do sambódromo piscavam em sincronia com o som da bateria durante o refrão do samba.

Com um dos sambas mais aclamados no período pré-carnavalesco, em forma de protesto e defesa pela luta do povo Yanomami, o Acadêmicos do Salgueiro, foi a terceira escola a se apresentar levantando o público das arquibancadas, impulsionado pela garra e a animação do intérprete Emerson Dias, que desde os primeiros acordes, durante o esquenta, prestou uma bela homenagem ao Quinho que faleceu em janeiro.

Em tom político e crítico, a comissão de frente fez uma simulação sobre os massacres que os indígenas vem sofrendo por conta do garimpo ilegal na Amazônia, o qual se traduziu em fome, contaminação e proliferação de doenças. Outro ponto polêmico foi o tripé intitulado “Comedor de Terra”, onde exibia uma retroescavadeira monstro engolindo a floresta. No quinto carro, uma enorme escultura de um índio nadando contra a corrente da destruição.

O experiente casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Marcella Alves, se destacou na apresentação. Os dois tiveram uma atuação perfeita na dança e no entrosamento, arrancando aplausos dos espectadores.

Alguns problemas foram observados durante a passagem da Vermelho e Branca da Tijuca, acima de tudo o abre-alas com certa dificuldade para se locomover, além de ocasionar um pequeno clarão que se abriu em frente à primeira cabine de jurados. No entanto, esbarrou na falta de acabamento em algumas alegorias e na leitura do conjunto de fantasias que se repetiam em alguns setores.  

A rainha das rainhas Viviane Araújo, representou as folhas Oko Xi, pois quando queimada no fogo, produzem uma fumaça amarela que traz a morte.

Quarta a desfilar, o Acadêmicos do Grande Rio levou para a avenida o enredo “Meu destino é ser onça”, inspirado no livro do escritor Alberto Mussa, que aborda a criação do mundo pelo mito Tupinambá.

De forte impacto visual, a Tricolor de Caxias destacou-se pelo sucesso do uso inovador da iluminação cênica do sambódromo, algumas em cores de tons neon, combinando com imponência riqueza de seu conjunto alegórico.

Além de apostar na tecnologia, foram distribuídas milhares de pulseiras de LED ao público presente da Sapucaí que acendiam de forma sincronizada durante os apagões, criando um efeito estrelado nas arquibancadas. Sob a luz negra, a comissão de frente foi um show à parte, por meio de tecidos e maquiagens fluorescentes brilhando no escuro.

A rainha de bateria Paolla Oliveira, representou o felino para mostrar que toda mulher brasileira é uma guerreira poderosa. Causando sensação, a beldade usou uma espécie de máscara tecnológica com olhos luminosos que sutilmente baixava e cobria seu rosto enquanto sambava, ativado pelo um controle remoto.

Com um desfile de excelência, será uma das fortes candidatas na disputa pelo título.

A Unidos da Tijuca, em clima de encantamento, apresentou os mistérios e as lendas de Portugal através do enredo “O Conto de Fados”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada. A abordagem da temática, entretanto, não favoreceu uma boa compreensão. Por outro lado, a escola trouxe para a avenida um visual de requinte e muito luxo, com alegorias e fantasias imponentes e bem acabadas conforme o imaginário.

A comissão de frente, sobre a origem de Lisboa, que envolve figuras mitológicas gregas, deslumbrou com a beleza estética do figurino, embora não tenha causado grandes impactos.

O desempenho do samba foi bastante irregular, porém, não empolgou as arquibancadas. Faltou garra e empolgação entre os componentes do Morro do Borel. O destaque ficou por conta da bateria “Pura Cadencia” de mestre Casagrande, que manteve o ritmo de forma segura imprimindo um andamento perfeito. No carro de som, o intérprete Ito Melodia com toda sua energia teve um ótimo desempenho.

Ostentando uma vestimenta cravejada de cristais, a cantora Lexa, reinou à frente dos ritmistas simbolizando a matriarca da diversidade.

Ao deslumbrante amanhecer, a atual campeã do carnaval carioca, Imperatriz Leopoldinense, encerrou o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial de maneira avassaladora, sem erros e nem tropeços. Com samba alegre, valente, cantando à capela por toda a Sapucaí nas paradas da bateria, mostrou a força da cultura e a magia do povo cigano.

Na comissão de frente, uma das integrantes em cima de um tripé, era içada por meio de cabos de aço, na qual retratava a divindade Esmeralda levitando sobre uma fogueira. Além disso, a Verde e Branco contou com vários elementos decorativos aéreos, um deles cenográfico, ilustrado de figuras celestes, carregava uma bailarina suspensa por um balão de gás a cerca de 10 metros do chão.

Na parte estética, o carnavalesco Leandro Vieira não economizou, trouxe alegorias e fantasias exuberantes bem criativas de fácil entendimento, explorando o misticismo unindo signos zodiacais, olhos de videntes, a prática da leitura das mãos e outras formas de previsão do destino. Outro ponto alto, foi o entrosamento perfeito entre o Swing da Leopoldina de mestre Lolo e o carro de som, favorecendo a harmonia e a evolução.

A Rainha de Ramos se credencia na luta por um bi campeonato mediante o enredo “Com a sorte virada para a lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”. O tema é um clássico da literatura de cordel escrito há mais de 100 anos pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros.

Gostou na matéria? Dê o seu comentário.