Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Salgueiro empolgam o público na Sapucaí
Por Luis Leite
Um público estimado em 40 mil animados foliões, que lotaram arquibancadas e frisas dos setores pares e ímpares do Sambódromo na noite de domingo (27), se emocionou com os ensaios técnicos da Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Acadêmicos do Salgueiro.
O Rio de Janeiro voltou a respirar o clima de carnaval, as três agremiações foram completas para a Avenida, mostrando que já estão prontas para os desfiles oficiais, que acontecerão nos dias 22, 23 e 30 de abril.
A primeira agremiação a entrar na avenida foi a Unidos da Tijuca, do carnavalesco Jack Vasconcelos, com o enredo “Waranã, a reexistência vermelha”, que abordará a lenda do guaraná.
A comissão de frente, trouxe bailarinos vestidos de indígenas fazendo diversas coreografias, uma delas era arremessada para o alto um dos seus integrantes arrancando os aplausos da plateia.
A escola fez o seu esquenta com o Samba 1999, “O Dono da Terra”, e seguido pelo discurso emocionante do mestre Casagrande que falou sobre a luta difícil que está sendo este carnaval.
O samba foi cantado a plenos pulmões por toda a comunidade, além do refrão, “Erê, essa mata é sua, é sua. Erê, vem provar doce mel, doce mel. Waranã da Tijuca, vem brincar no Borel”, que era entoado com bastante energia por toda Sapucaí.
A rainha de bateria Lexa impressionou ao exibir seu corpo escultural na Sapucaí, a beldade além de distribuir camisas no setor 1 brilhou à frente dos ritmistas esbanjando simpatia.
Mocambo de crioulo, a raça que a mordaça não calou
Logo depois, foi a vez da Beija Flor de Nilópolis a pisar forte na avenida, enaltecendo as glórias e histórias dos negros com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”. A proposta da agremiação nilopolitana é explorar atitudes racistas do dia a dia, além da polarização da sociedade atual.
Com desfile tecnicamente perfeito mostrou o canto forte da comunidade cumprindo com perfeição as exigências de uma boa evolução e harmonia.
O intérprete Neguinho da Beija-Flor homenageou e dedicou o ensaio em memória ao cantor Bakaninha, de 31 anos, que era apontado como seu sucessor na escola, que morreu num acidente de carro em janeiro deste ano.
Representando a voz do povo preto contra a discriminação a comissão de frente executou apenas 20% do que será apresentado no desfile oficial. Parte das coreografias foram feitas para a realização do ensaio na Sapucaí. O grupo se mantém em atividade desde o ano passado, se reunindo quatro vezes por semana com duas horas de treino.
O mais antigo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, que em 2022 completa 30 anos de parceria, apresentou um bailado tradicional com sincronismo perfeito.
A bateria de mestres Rodney e Plínio ousou com suas paradinhas e algumas alas vieram coreografadas, uma delas trazia integrantes com capas de cor laranja com frases de protesto na luta contra o racismo como “Respeite a cor da minha pele”, “Meu cabelo é resistência, não é moda”, “Vidas negras importam”, ”Negro maravilhosos”, entre outras.
Um tripé alegórico trouxe dois telões que mostravam fotos de algumas figuras importantes da trajetória soberana.
Destaque para Ala da Velha Guarda, sob o comando de Tia Débora Rosa e a das baianas que durante sua passagem foram muito aplaudidas.
A rainha Raíssa de Oliveira, além de posar com os fãs, mostrou muito samba no pé e foi ovacionada pelo público. Quem também marcou presença foi as musas Jojo Toddynho e a ex-BBB Bruna Gonçalves esposa da cantora Ludmilla.
Resistência: Salgueiro é negritude
O Salgueiro foi a terceira e última escola a fazer seu treino com o grito de resistência negra mostrando sua influência e sua persistência em locais do Rio.
Com movimentos fortes e vigorosos a comissão de frente, idealizada pelo coreógrafo Patrick Carvalho, veio dividida em dois grupos, um deles pintado de vermelho com as roupas da mesma cor e o outro de branco com faixas e pintas do Candomblé.
As alas evoluíram soltas e mostraram força e valentia no canto, impulsionado pelos intérpretes Quinho e Emerson Dias. Bastante animada, algumas carregavam balões e lenços nas mãos colorindo toda a avenida. Uma delas representou o funk relembrando os antigos bailes dos anos 90.
O experiente casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Marcella Alves mostrou muito entrosamento durante o bailado ao longo das apresentações.
As baianas com saias rodadas de cores diferentes deram um banho de axé na avenida com galhos de arruda, espada de São Jorge, alecrim e guiné abençoando e garantindo boas vibrações e energias.
Um dos grandes destaques foi a bateria Furiosa com uma apresentação impecável comandada pelos irmãos Guilherme e Gustavo, que na hora da paradinha todos os ritmistas se ajoelhavam e colocavam os punhos erguidos pela igualdade.
Grávida de quatro meses, a rainha das rainhas Viviane Araújo foi surpreendida no primeiro recuo da bateria com um “Parabéns pra você”, e também ganhou um bolo de aniversário entregue pelo marido Guilherme Militão. Ela completou 47 anos no dia 25 de março. Vestida com um macacão vazado e cheio de brilhos, a futura mamãe impressionou exibindo sua barriguinha de gestação.
Quem também chamou a atenção foi o time de musas da agremiação que contou com a presença da atriz Dandara Mariana, Rafaella Santos, irmã de Neymar e MC Rebecca, entre outras personalidades como o ator Babu Santana, DJ Marlboro e a funkeira Tati Quebra Barraco.
No sábado (26), três escolas do grupo da Série Ouro passaram na avenida
A Inocentes de Belford Roxo foi a primeira escola a ensaiar e trouxe o enredo “Meia-noite dos tambores silenciosos”. A escola vai contar a história da ancestralidade negra, uma tradição do carnaval pernambucano que acontece há mais de 50 anos.
A segunda a cruzar a avenida foi Acadêmicos do Sossego que apresenta para o Carnaval 2022 o enredo “Visões Xamânicas”, uma saga épica imaginada entre o presente e o futuro.
Terceira e última foi a Acadêmicos de Santa Cruz, que vai contar a história de luta e de sucesso do ator e diretor Milton Gonçalves. Ele será o rei da escola, que vai coroá-lo em diversos momentos no desfile.
