Vladimir Rocha: “A mensagem que deixo para a nossa comunidade é que se aproxime cada vez mais da nossa escola”

Vladimir Rocha: “A mensagem que deixo para a nossa comunidade é que se aproxime cada vez mais da nossa escola”

Por Ricardo Maia

Vice de Finanças, diretor de Carnaval da Acadêmicos da Abolição e enredista, Vladimir Rocha fala sobre sua trajetória na escola e faz um resumo da história da agremiação. Além disso, ele conta nesta entrevista sobre a importância da comunidade e sobre a identidade que a Abolição vem adotando ao longo de sua estrada, principalmente nos últimos anos, quando descreveu enredos que enalteceram personalidades e instituições significativas da nossa cultura.

OBatuque.com – Conte sobre a sua história na Acadêmicos da Abolição?
Vladimir Rocha – Cheguei na agremiação em 2017 para o Carnaval 2018. Junto de Raquel Faria (hoje na equipe artística da escola) e de Léo Torres (não faz mais parte da escola), formamos uma Comissão de Carnaval. Na escola, fui me aprimorando e entendendo a necessidade da agremiação por buscar recursos. O presidente (da Abolição), Neto Doria, e o vice-presidente, Léo Samico, me deram a oportunidade de assumir a direção de Carnaval e a vice-Presidência de Finanças. E dentro de todos os enredos escritos por mim pensamos em estratégias para captação de recursos para os nossos desfiles.

OBatuque.com – Um resumo da história da Acadêmicos da Abolição?
Vladimir Rocha – A escola foi fundada em 20 de janeiro de 1986. Tudo começou por conta de uma brincadeira de amigos do bairro, que formava o Bloco dos Limões. Depois, outros dois blocos do bairro se juntaram e resolveram formar o Bloco Carnavalesco Acadêmicos da Abolição. A escola desfilou como bloco até 1991. Em 1992, virou escola de samba e em 1995 e 1996 tivemos passagens pela Marquês de Sapucaí e hoje ela se mantém no grupo principal da Intendente Magalhães. Nosso principal objetivo é levar a Abolição novamente à Sapucaí para formar a Série Ouro.

OBatuque.com – Vocês estão na Série Prata, o grupo conta com 32 escolas, algumas com bandeiras pesadíssimas, onde somente três subirão. Qual a estratégia que você pretende usar para superar tantos concorrentes?
Vladimir Rocha
– Hoje nós estamos em um grupo com escolas bem fortes, escolas que tiveram uma presença marcante na Sapucaí, queridas pelo público. A nossa estratégia principal é fazer o nosso dever de casa. Hoje uma escola da Intendente que quer voltar para a Sapucaí não pode errar. Então uma das coisas que estamos priorizando muito este ano é ficar atento à questão das obrigatoriedades. A gente vem conversando com a comunidade, explicando a importância de todos desfilarem, ajudarem a escola, principalmente as baianas e a bateria para atingir o número imposto. A escola tem que passar com contingente além do mínimo exigido para acertarmos em obrigatoriedade, porque não perdendo esses pontos, com certeza nos destacaremos e já partiremos na frente de muitas outras.

OBatuque.com – Durante esses anos de carnaval, qual é o ponto forte da escola?
Vladimir Rocha – Hoje grande parte desses segmentos vem da gestão atual do presidente Neto Doria e do vice Leo Samico desde 2018. Eu mesmo entrei nessa gestão. E todos os nossos segmentos têm sua responsabilidade, sabem o que fazer. Nosso (primeiro) casal, Dandara Luiza e Raison Alves, é muito focado. Eles ensaiam muito. Nosso mestre de bateria, Carlos Alexandre, nosso intérprete, Digão Audaz, mas, com certeza, o segmento que é muito significativo e que mantém nossa energia em dia com a escola é a nossa Velha-Guarda comandada pela Dona Beth. Uma pessoa muito querida no mundo do samba. Ela participa de tudo, ajuda a escola, mantém a Velha-Guarda atuante, unida e presente em todos os eventos da escola. Por toda a escola, temos um time na retaguarda, longe dos holofotes, que é essencial para que a escola chegue “redonda” na avenida e alcance o sucesso. Percebo que o trabalho dessa equipe é muito apaixonado.

OBatuque.com – Conte-me como é essa equipe na Acadêmicos da Abolição?
Vladimir Rocha – Nossa escola conta com a ajuda de pessoas fundamentais para que ela chegue “redonda” na avenida. Hoje sou o diretor de Carnaval e escrevo o enredo, e temos pessoas que compram essa minha ideia e transformam em arte. Uma dessas pessoas é a Raquel Farias que já veio da Direção de Carnaval e hoje faz parte da equipe artística junto com a Livinha Pessoa. A Raquel desenha os figurinos e coloca a “mão na massa”. A Livinha chegou à agremiação em 2022, dando uma soma significativa em nosso carnaval e reproduzindo fantasias. É um grande talento que ela tem. Para o carnaval de 2023, teremos um diretor de Barracão, que será o Leo Siqueira. Ele trará ao seu lado o Cristiano para nossa equipe artística. Então, a Abolição conta com esse time de talentos que fazem com que a escola desfile bem.

OBatuque.com – O enredo para 2023 fará uma homenagem ao professor e historiador Luiz Antonio Simas que se destaca pelas publicações sobre a cultura afro. O que levou vocês a optarem pelo Simas?
Vladimir Rocha – Nossa escola gosta de seguir a linha de homenagens a pessoas significativas como foi em 2019, quando falamos da escritora Conceição Evaristo. Em 2020, falamos dos 75 anos da Feira de São Cristóvão. Dois anos depois, homenageamos o querido Alex Escobar. Já o Simas se encaixa nesse padrão de pessoas e de culturas que a gente gosta de falar. É um cara muito relacionado ao carnaval, ao samba, participa do júri do Estandarte de Ouro, é um religioso, um conhecedor da cultura afro… Então é uma linha de enredo que gostamos muito e ficamos muito felizes com a repercussão do enredo, tanto é que o público e os admiradores dele nos procuram, falando que querem participar do desfile. E é isso que precisamos, de enredos que falam de grandes personalidades, que têm identificação com o samba que trazem movimentos para a escola.

OBatuque.com – O trabalho dele é muito vasto, e de que forma vocês pretendem apresentar o Simas para o público da Intendente?
Vladimir Rocha – O Simas me deu a honra de escrever a sinopse junto comigo. Ele nos presenteou com um texto que é a visão do objeto principal dele, que são as ruas do Rio. Então, a nossa escola vai apresentar o contexto das ruas do Rio com o passar dos tempos. Desde o período quando os africanos chegaram aqui, os períodos que comtemplam o passado da nossa cidade e as manifestações que o Simas gosta e coloca em seus objetos de estudo. As manifestações religiosas como a festa da Penha, as festas juninas, a festa de São Sebastião, que é o padroeiro da escola. O nosso enredo será um mergulho cultural nas ruas da nossa cidade.

OBatuque.com – A Acadêmicos da Abolição opta por fazer enredos em homenagens a personalidades. Você acredita que esse modelo de enredo seja mais fácil de apresentar?  Qual é o real motivo dessa preferência?
Vladimir Rocha – O modelo de homenagens que seguimos vem de bons carnavais apresentados pela escola, consolidando a imagem nesse grupo tão forte, a Série Prata. A Abolição vem resgatando sua comunidade, o público que frequentava a escola, hoje está feliz com os resultados que temos obtido nos últimos carnavais. Então esses enredos são bem significativos para nós, porque agregam outras pessoas. A escola faz com que mais pessoas conheçam a nossa Acadêmicos da Abolição. Por isso, seguimos essa linha de homenagear pessoas populares, que amam a cultura africana e que amam o carnaval. Pretendemos continuar essa linha de enredo.

OBatuque.com – O Simas vai desfilar com a comunidade da Abolição?
Vladimir Rocha – O Simas vai desfilar conosco sim, ele já confirmou presença. Ainda convidaremos pessoas relacionadas com a vida profissional dele: amigos, parceiros… Então nosso desfile será recheado de pessoas que o Simas gosta.

OBatuque.com – Vamos falar um pouco da comunidade. Existe algum trabalho social desenvolvido pela escola fora do carnaval?
Vladimir Rocha – Quando a atual gestão assumiu a escola, a Abolição vinha de rebaixamentos, então a comunidade estava muito insatisfeita. Desde 2018 estamos reconquistando nossa comunidade e o prazer das pessoas frequentarem nossa quadra. E os trabalhos sociais são desenvolvidos pela nossa primeira-dama, Marcia Doria. Estamos com projetos para a terceira idade, buscando uma melhor qualidade de vida, com isso as pessoas tornam a entrar em nossa quadra, veem que a escola está ativa e estamos acolhendo-os com muito carinho.

OBatuque.com – Se tivesse que apontar um ponto alto do seu desfile, o que você diria para o povo atentar para a apresentação da Abolição?
Vladimir Rocha – Serão as fantasias, as alas… A Abolição vai fazer um carnaval de volume. Nossas alegorias serão de impacto e a nossa Comissão de Frente terá novo coreografo, Edy Caramelo, um bailarino que já fez um trabalho primoroso em alas coreografadas no desfile de 2022 e está preparando uma coreografia que vai emocionar todo o público da Intendente Magalhães. Nós, das escolas de base, sempre temos nomes de destaque que falamos: “Esse começou lá na minha quadra”.

OBatuque.com – A Abolição tem algum nome que iniciou na agremiação e hoje brilha no carnaval?
Vladimir Rocha – Temos alguns destaques significativos que começaram na quadra da Abolição. Os moradores mais antigos acompanharam o início de carreira do Xandy de Pilares, Zé Paulo Sierra, que sempre esteve muito presente na Abolição; Marcos Leroy, destaque da Mocidade (Independente de Padre Miguel). Ele comentou que a primeira a lhe dar uma oportunidade foi a Acadêmicos da Abolição.

OBatuque.com – Qual a mensagem que você gostaria de mandar para a comunidade da Abolição?
Vladimir Rocha – A mensagem que deixo para nossa comunidade é que se aproxime cada vez mais da nossa escola. Estamos fazendo um grande esforço para voltarmos à Sapucaí. Nossos projetos sociais estão em funcionamento. A escola é do bairro, então a nossa vontade maior é de que o bairro esteja cada vez mais próximo da nossa escola. Então contamos com nossos componentes para que a escola cresça cada vez mais para alcançarmos nosso objetivo, que é a volta para a Sapucaí. Então, que a comunidade continue frequentando nossos eventos e que interaja nas nossas redes sociais. A participação da comunidade é, para nós, um fator primordial para o crescimento da nossa escola.

OBatuque.com – Para finalizar, como você completaria para o público em geral a seguinte frase: “A Acadêmicos da Abolição é…”?
Vladimir Rocha – A Acadêmicos da Abolição é uma escola muito familiar, muito acolhedora, nossa quadra tem um clima muito bom, as pessoas costumam voltar. Já passamos por altos e baixos, mas a essência da escola se mantém. Uma escola que tem raízes profundas no bairro, que faz parte da vida das pessoas do bairro e é uma escola que se mantém por isso. Esse clima sempre manterá a escola ativa, com certeza.

Gostou na matéria? Dê o seu comentário.