Vila Isabel, Imperatriz e Grande Rio definem sambas para 2025
Por Luis Leite
Em noite de festa e com suas quadras totalmente lotadas, mais três escolas do Grupo Especial do Rio definiram nesse fim de semana seus sambas-enredos para o Carnaval 2025.
Na Unidos de Vila Isabel, a obra vencedora, em uma disputa que contou com mais de 20 inscritos, leva as assinaturas de Raoni Ventapane, neto de Martinho da Vila, Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva. O resultado saiu por volta das 4h30, de sábado (28/10).
“Nós estávamos em busca de um samba alegre e nós encontramos. O hino da Vila já está na boca do povo e não tenho dúvidas de que vai assombrar a Avenida no Carnaval 2025”, afirmou o presidente da agremiação, Luiz Guimarães.
Antes da exibição das três composições finalistas, Azul e Branca de Noel preparou uma ambientação temática na qual o público viajou por cenários assustadores até o desembarque no grande baile do anúncio do hino oficial. Ao todo, foram mais de seis efeitos especiais e elenco de cerca de 60 artistas.
O povo do samba virado na bruxaria
Última a desfilar na segunda-feira de Carnaval, a Vila levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.
Conduzida por um trem-fantasma, a escola vai transformar em folia o medo em alegria ao carnavalizar as assombrações que atazanam o imaginário popular, demonstrando como elas fazem parte do nosso dia a dia de várias formas, em diversas etapas da vida – desde a infância até a fase adulta.
Em Ramos, a final também foi de decisão, sagrou-se vitoriosa a parceria de Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão, Wilson Mineiro e Me Leva, que já conquistou oito vitórias na agremiação.
A celebração iniciou-se com uma homenagem especial à carnavalesca Rosa Magalhães, que faleceu há pouco tempo. A artista foi cinco vezes campeã com a Verde e Branco.
O evento contou ainda com atuação dos principais segmentos, além dos sambas antológicos embalados sob o ritmo Swing da Leopoldina, de mestre Lolo.
“O que vivemos na noite da nossa grande final é inesquecível. Ver a casa lotada, com apresentações de gabarito altíssimo, tanto dos segmentos quanto das nossas parcerias, não tem preço. É o reflexo de uma escola e comunidade felizes, e é para isso que a gente trabalha diariamente: para sempre colocarmos a Imperatriz no topo. 2025 teremos um Carnaval ainda maior”, falou o diretor-executivo João Felipe Drumond.
A Imperatriz Leopoldinense será a segunda agremiação a desfilar no domingo de Carnaval, com o enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira. O tema contará a história da saga de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô.
Já na Grande Rio, a composição escolhida é de um grupo de integrantes da escola Deixa Falar, de Belém do Pará, formado por mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davidson Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes. O anúncio foi divulgado na madrugada de domingo (29/10).
No ensejo, foram apresentadas oficialmente para a comunidade as musas Patrícia Poeta, Mileide Mihaile, Alane Dias, Isabelle Nogueira, Renata Frisson, Gardênia Cavalcanti e Mariana Goldfarb.
Quem também marcou frequência foi a rainha de bateria, Paolla de Oliveira, esbanjando beleza, simpatia e carisma. A beldade foi destaque ao dançar o carimbó com saia rodada.
No ano que vem, a Tricolor de Caxias será a terceira escola a desfilar na terça-feira de carnaval, no dia 4 de março, com o enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. O tema exalta as belezas naturais e a cultura do estado norte brasileiro.
Seguem abaixo as letras dos sambas campeões:
Unidos de Vila Isabel
Embarque nesse trem da ilusão
Não tenha medo de se entregar
Pois nosso maquinista é capitão
E comanda a multidão que vem lá do boulevard…
O breu e o susto em meio a floresta
Por entre os arbustos, quem se manifesta?…
Cara feia pra mim é fome
Vá de retro lobisomem, curupira sai pra lá.
No clarão da lua cheia
Margeando rio abaixo
Ouço um canto de sereia
Ê caboclo d’água
Da água que me assombra
A sombra da meia noite
Foi-se a noite de luar
Na tempestade, encantada é a gaiola
Chora viola, pra alma penada sambar
Nas redondezas credo em cruz ave maria
Quanto mais samba tocava, mais defunto aparecia
Silêncio…
Ao som do último suspiro vai chegar
A batucada suingada de vampiros
Quando o apito anunciar….
Eu aprendi que desde os tempos de criança
A minha vila sempre foi bicho papão
Por isso, me encantei com esse feitiço
Que hoje causa reboliço dentro desse caldeirão
Solta o bicho minha vila dá um baile de alegria
É o povo do samba virado na bruxaria
Quanto mais eu rezo, quanto mais eu faço prece
Mais assombração que aparece
Imperatriz Leopoldinense
Vai começar o itan de Oxalá
Segue o cortejo funfun pro senhor de Ifón, Babá
Orinxalá, destina seu caminhar
Ao reino do quarto Alafin de Oyó
Alá, majestoso em branco marfim
Consulta o ifá e assim
No odú, o presságio cruel
Negando a palavra do babalaô
Soberano em seu trono, o senhor
Vê o doce se tornar o fel
Ofereça pra Exú… um ebó pra proteger
Penitência de Exú, não se deixa arrefecer
Ele rompe o silêncio com a sua gargalhada
É cancela fechada, é o fardo de dever
Mas o dono do caminho não abranda
Foi vinho de palma, dendê e carvão
Sabão da costa pra lavar demanda
E a montaria te leva à prisão
O povo adoeceu, tristeza perdurou
Nos sete anos de solidão
Justiça maior é de meu pai Xangô
No dendezeiro, a justiça verdadeira
(Meu pai xangô mora no alto da pedreira)
Onde o banho de abô pra purificar
Desata o nó que ninguém pode amarrar
Transborda axé no ibá e na quartinha
Pra firmar tem acaçá, ebô e ladainha
Oní sáà wúre! Awure awure!
Quem governa esse terreiro ostenta seu adê
Ijexá ao pai de todos os oris
Rufam atabaques da Imperatriz
Acadêmicos do Grande Rio
A Mina é cocoriô!
Feitiçaria parauara
A mesma lua da Turquia
Na travessia foi encantada
Maresia me guia sem medo
Pro banho de cheiro
Na “en-cruz-ilhada”, espuma do mar
Fez a flor do mururé desabrochar
Pororoca me leva… Pro fundo do igarapé
Se desvia da flecha, não se escancha em puraqué
Quem é de barro no igapó é Caruana
Boto assovia (oi) mãe d’agua dança!
Se a boiúna se agita… É banzeiro! Banzeiro!
Quatro contas, um cocar!
Salve a arara cantadeira!
Borboleta à espreita…
E a onça do Grão-Pará
Na curimba de babaçuê
Tem falange de ajuremados
A macaia codoense é macumba de outro lado
Venham ver as três princesas ‘baiando” no curimbó
É doutrina de santo rodando no meu carimbó!
E foi assim… Suas “espadas” têm as ervas da Jurema
Novos destinos no mesmo poema
E nos terreiros, perfume de patcholi
Acende a brasa do defumador
Pra um mestre batucar a sua fé
Noite de festa! Curió marajoara…
Protege Caxias nas águas de Nazaré!
É força de caboclo, vodun e orixá!
Meu povo faz a curva como faz na gira!
Chama Jarina, Herondina e Mariana
Grande Rio firma o samba no Tambor de Mina!