Roulian Então Tá Vieira, o criador do chocalhão em homenagem a Mestre Marçal 

Roulian Então Tá Vieira, o criador do chocalhão em homenagem a Mestre Marçal 

Por Luis Leite

Fotos: Domingos Peixoto,Marcos André Pinto,Paulo Araújo e Paulo Moreira

Roulian Vieira do Nascimento,nasceu na cidade de Rio Pomba, em Minas Gerais, e se criou em boa parte de sua infância no Rio de Janeiro. Como morador de Santa Teresa, funcionário público federal, ator e músico, já participou de diversas novelas de uma emissora de TV, como “Mandala”, “De Corpo e Alma” e também na minissérie “Araponga”, como Agente Negro. Hoje ele é membro do Colegiado Executivo dos Fóruns Regionais de Governo no estado de Minas Gerais.

Torcedor da Portela, da União da Ilha e da Unidos da Tijuca, Roulian percebeu o dom para tocar um instrumento em razão do fascínio do ritmo das baterias das escolas que sua mãe desfilava. Ele passou a se interessar por vários instrumentos, todavia foi o chocalho que fez emergir a sua fascinação. A sua avaliação como ritmista foi feita por ninguém mais, ninguém menos que Mestre Marçal. “Toquei caixa de guerra, agogô, surdo, tamborim até chegar naquele que eu gostava de ouvir os ritmistas tocarem: o chocalho. Ao chegar na Portela, para conhecer a bateria, percebi que o mestre exigia de cada um ritmista muito a performance, passava ao lado de cada um para ouvir se estava tocando no ritmo certo. Então passei a fazer parte da oficina de percussão, foram vários testes até ser aprovado pelos auxiliares e ritmistas mais antigos da Portela.  O teste final era tocar para o Mestre Marçal. Então comecei a ensaiar toda a semana na quadra. Durante um determinado ensaio, Mestre Marçal me perguntou porque eu chegava tão cedo à quadra. Eu respondi: ‘Para se inteirar com os auxiliares e tirar todas as dúvidas’.  Ele me disse: ‘Você tem futuro, meu sobrinho. Você merece um chocalho do seu tamanho’. Sobrinho, era a forma carinhosa que Marçal me chamava e também os outros ritmistas. Para homenageá-lo, resolvi fazer um chocalho do tamanho dele.  O instrumento foi construído pelo finado Paulo Marino da Portela.  Ele media 1,73 metros, exatamente da altura do Mestre Marçal, tinha 20cm de largura com 245 platinelas e pesava 5kg”, explicou Roulian.

Com sua primeira exibição na bateria da Portela, Vieira ganhou do Conselho do Museu do Carnaval o prêmio de destaque como ritmista. O sonho de Roulinan era ganhar também o Estandarte de Ouro para dedicar ao seu ao seu ídolo, o Mestre Marçal.

Apesar de ter feito essa homenagem a Marçal, Roulinan não desfila numa bateria desde 1999. Nesse ano, um dia antes do desfile da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, ele perdeu o instrumento que havia criado.  Para o desespero de Rouliam, ele saiu à procura do chocalho, pois ele seria tocado para milhões de espectadores e mostrado aos representantes do famoso “Guiness Book”, o Livro dos Recordes.  “Fui dar um suporte a um amigo da União de Jacarepaguá, na Avenida Rio Branco, que me pediu, antes do desfile começar, para que eu fosse organizar os ritmistas na área de concentração. No momento da distribuição dos instrumentos, o chocalho foi encostado em uma pilastra de um prédio e esquecido após a saída do responsável do caminhão. Segundo testemunhas, o chocalho foi levado por duas catadoras de latinhas, que se apossaram do material de alumínio pesado, largaram tudo que tinham em mãos e levaram o instrumento indo em direção à Central do Brasil.

Atualmente, com 60 anos de idade, Roulian relembra com o orgulho de alguns momentos que marcaram época no carnaval carioca, especialmente o dia em que Mestre André, da Mocidade, mesmo errando, criou a paradinha, e evidentemente destaca o Mestre Marçal, como o melhor de todos os tempos: “A melhor bossa que eu vi na minha vida foi a do Mestre André, quando vivo. Sem querer ele lançou a novidade.  Hoje, as bossas abrilhantam o show da bateria. É um ‘q’ a mais para dar um diferencial rítmico entre as outras agremiações. Agora, o mestre que mais admirei, foi o Mestre Marçal, sem dúvidas. Foi o meu grande incentivador. Foi ele que me deu as primeiras orientações para que eu tornasse ritmista.  Aprendendo todos os segredos de percussão. Tenho muito orgulho de ter desfilado sob a sua batuta”.

Roulian Vieira passou por diversas escolas, tanto como passista, quanto ritmista. Como passista, ele só não desfilou pela Mangueira, Salgueiro e Grande Rio. Já como ritmista, ele passou pela Portela, Beija-Flor, Estácio de Sá, Tradição, Império Serrano, Imperatriz, Mocidade, Unidos da Tijuca, Caprichosos de Pilares, União da Ilha, União de Jacarepaguá e Unidos de Vila Isabel.

Admirador dos saudosos ritmistas Catanha da Portela e Eduardo do Repique, Vieira crê na valorização dos ritmistas, especialmente em resgatar essas histórias, que segundo ele, jamais serão esquecidas a partir da propagação de matérias e a visibilidade dada a esses músicos: “Propagar a cultura dos ritmistas é uma bela iniciativa. Essas histórias jamais deverão ser esquecidas e não deixar morrer os nomes de quem foi história no mundo samba, como os grandes baluartes das últimas décadas.  É a valorização do ritmista que é fundamental.  Não podia também esquecer dos saudosos José Carlos Machado, Fernando Pamplona e José Carlos Rêgo”.

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