Rixxxa, o Pavarotti do Samba
Por Wander Timbalada
Ele nasceu Antonio Ricardo de Souza, porém aos poucos adotou Rhychahs como o seu nome artístico. Anos mais tarde mudou para Richahs, depois disso passou a assinar Rixxah, e agora, com sua crença na numerologia, grafou no nome um triplo X: Rixxxa. Rixxxa iniciou sua carreira como intérprete de samba-enredo no bloco Periquito de Jardim América, entre os anos de 1974 e 1975. Em uma curta passagem pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), integrou, como tenor, o coral Comunica Som da estatal. Pelos Correios, participou de várias apresentações Brasil afora onde foi apelidado pelos sambistas de Pavarotti do Samba, referência dada ao cantor italiano de ópera Luciano Pavarotti. Nesta entrevista, ele fala de seu amor pelo samba, do legado deixado pelos sambistas de outrora e de sua amizade com Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho.
OBatuque.com – Como você iniciou a sua carreira como intérprete de samba-enredo no carnaval carioca e quantos anos de carreira você tem?
Rixxxa – Entre os idos de 1974 e 1975, eu comecei a cantar no bloco chamado Periquito de Jardim América, que na época tinha um enredo do Sítio do Picapau Amarelo. O meu início como cantor de samba-enredo foi aí nesse bloco. Cheguei a desfilar em Bonsucesso, fomos campeões e também participamos de um concurso de samba de bloco na Portela, onde também fomos campeões e daí eu segui em frente. Quanto aos anos de carreira… são mais de 30 anos, seguros e firmes como uma rocha.
OBatuque.com – Como você vê a questão dos novos intérpretes no cenário do carnaval em relação aos grandes nomes e mais antigos no mercado?
Rixxxa – Os tempos são outros, quando eu cheguei aqui estavam Jamelão, da Mangueira; Dedé da Portela; Carlinho de Pilares, na Caprichosos de Pilares; Aroldo Melodia, na União da Ilha; Ney Viana, na Mocidade Independente de Padre Miguel; Rico Medeiros, no Salgueiro; Abílio Martins, que cantou em várias escolas, tais como Portela, São Carlos, Imperatriz, Arranco de Engenho de Dentro, mas onde ele ficou mais tempo foi na Império Serrano; entre outros grandes nomes. Era um apanhado desse pessoal que vivia, mas o samba de verdade. Os meninos estão aí, acho que eles teriam que pesquisar mais e buscar mais referência dos antigos que, na minha opinião, deixaram um grande legado de aprendizado como referência a se seguir. Antigamente se cantava mais por amor às escolas de samba, e hoje eu sinto que a coisa está um pouco mais fria, mas como o samba mudou no geral, essa parte também mudou. E cada um dá o que pode, né? É o que tem.
OBatuque.com – Como você vê as oportunidades para um intérprete ingressar na carreira de cantor de carnaval hoje em dia, em relação à época em que você começou? Você acha mais fácil ou mais difícil para entrar e para se estabelecer nesse mercado?
Rixxxa – Hoje em dia, para ingressar no carnaval, eu acho muito mais fácil. Não se exige tanta qualidade como na época em eu cheguei. Tínhamos grandes cantores e muita identificação dos cantores com as escolas. Hoje, como tudo se transformou, essa parte se transformou também, eu acho muito mais fácil um cantor que cante meio de ano passar a cantar samba-enredo e ingressar uma escola de samba também.
OBatuque.com – Como, quando e quem lhe deu o pseudônimo de Pavarotti do Samba?
Rixxxa – Bem, o Pavarotti do Samba veio pela minha formação erudita, pois eu quando estava trabalhando nos Correios, fiz parte do coral Comunica Som e cantava no naipe de tenores, um coral de quatro vozes da empresa: tenor, soprano, contralto e baixo. Eu fazia parte dos primeiros tenores, fiz muito o “Projeto Aquarius”, na sala Cecília Meireles, na Quinta da Boa Vista, e viajando pelas cidades do Brasil, representando a empresa. Aí quando me afastei da empresa e do coral, o pessoal do samba soube dessa minha trajetória, nesse cenário erudito, e passou carinhosamente a me chamar de Pavarotti do Samba, pela minha entonação, pelas nuances que eu faço, afinação, e daí começou essa adaptação carinhosa na minha carreira que o pessoal faz questão de me tratar e que muito me envaidece.
OBatuque.com – Você tem um lado de compositor na sua trajetória. Pode citar quais os artistas gravaram suas obras e os nomes delas?
Rixxxa – Tenho meu lado de compositor, sim. Nos idos de 77 a 78, tive o grande prazer de conhecer o Arlindo Cruz. Depois conhecemos o Zeca Pagodinho e começamos a caminhar juntos nessa estrada. Íamos muito ao Cacique de Ramos, gostávamos muito de pagode, que naquela época era partido-alto, pois o termo pagode veio se firmar mesmo após a criação do Fundo de Quintal, e nós éramos admiradores dessa vertente do samba e dali começamos a escrever umas coisinhas também entre nós e outros parceiros. Eu tive uma música gravada com o Dominguinhos do Estácio, Alcione, Maria Helena, com Davi Correia e outros que não me recordo no momento. A minha música foi a “Fingida”, eu e Arlindo Cruz, e “Lição de Malandragem” também. A minha parceria com Arlindo Cruz foi a primeira e depois começamos a compor com o Zeca Pagodinho.
OBatuque.com – Há alguma escola de samba na qual você teve alguma experiência negativa cantando?
Rixxxa – Experiência negativa, nenhuma. Cantando, em lugar nenhum. E eu sempre fiz tudo com amor, sempre dei o meu melhor, e o samba pra mim é o que eu mais gosto de fazer. Cantar samba, minha interpretação… Sempre visto a camisa, o surdo bate de uma forma só, seja no Rio de Janeiro ou em qualquer estado do Brasil. O samba pra mim é uma coisa só e sempre me deu alegria.
OBatuque.com – Você acha certo o nome de um compositor, dentro de uma competição, influenciar um concurso de samba-enredo?
Rixxxa – Cada escola tem o seu regulamento, né? E aí fica difícil para eu responder essa pergunta e até dar a minha opinião, pois antigamente quando existia o concurso de sambas-enredos se escolhia sempre com a questão do coração e sempre era o melhor para escola. Junto à comunidade existia sempre um samba que despontava, e a escola escolhia até pela forma natural. Os outros compositores também se uniam em prol daquele samba, abraçavam o melhor para sua agremiação, era maravilhoso, lindo, emocionante e verdadeiro, mas como hoje tudo mudou, e cada escola tem o seu regulamento… Eu sou do tempo da escolha por amor ao melhor, de qualidade, de emoção de todos os segmentos e da comunidade.
OBatuque.com – Como um intérprete experiente, que presenciou grandes sambas de sucesso na Marquês de Sapucaí, qual é a tua visão sobre os sambas antológicos em relação aos sambas atuais?
Rixxxa – Os sambas antigos, como eu disse na resposta anterior, eram feitos na época onde se tinha mais a emoção do coração do sambista, e os sambas de hoje também são valorosos, tanto que são aproveitados pelas escolas para os seus desfiles muitas vezes se sagram campeões e ficam também eternos na galeria dos sambas vencedores da agremiação.
OBatuque.com – Um nome como referência no carnaval que deveria ser eternizado pela sua trajetória?
Rixxxa – Um nome que deveria ser eternizado é o do grande Jamelão. Voz linda, divisão perfeita, sambista de fato e de direito, todo respeito ao nome Jamelão. Salve, Mangueira!
OBatuque.com – Fale um pouco sobre a sua experiência participando do coro nas gravações dos CDs das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, de Corumbá (MS) e também sobre a tua atuação como back vocal do Zeca Pagodinho.
Rixxxa – Olha, eu me sinto muito honrado de verdade e de coração por participar das gravações do Zeca, que é meu amigo. Todo sucesso, toda sorte pra ele. Só tenho a agradecer por ele ter me dado esse trabalho, fico muito feliz pela comunhão que a gente tem lá e a harmonia que se tem nesse trabalho, pois a gente sempre procura fazer o melhor e faz. Sobre as escolas de samba também sou honrado, mas ainda, por várias vezes eu, além de participar como intérprete de uma delas, também pude participar com a minha voz nos coros nas faixas das outras, contribuindo com o carnaval que é o mais importante pra mim e peço a Deus para poder sempre estar fazendo isso. Você, meu irmão, me deu esse privilégio também nas produções que realizou em Corumbá, na qual lhe parabenizo pelo grande profissional que você é, com grandes sacadas e convites a grandes nomes do carnaval carioca como participação especial em sua produção, que valorizou por demais o carnaval dessa cidade. Não poderia deixar de falar sobre o meu trabalho como cantor de meio de ano, principalmente pela música “Meu nome é Portela”, de sua autoria e do grande compositor Arnaldo Mateus, da Beija-flor. A música foi lançada em todas as plataformas digitais pela sua gravadora Fábrica de Som Music, pelo projeto “Álbum Nosso Som”, que traz uma gama de artistas de muita qualidade. Foi um grande achado da sua parte e uma grande oportunidade para todos mostrarem seus trabalhos. Parabéns e muito obrigado!
OBatuque.com – Um ídolo do carnaval.
Rixxxa – Ídolo do carnaval são muitos, né? A gente tem senhor Natal, Paulo da Portela, Monarco, Nelson Cavaquinho, Cartola… Nossa! Muita gente boa. Paulinho da Viola, que está vivo aí, aos 80 anos, e muitos outros sambistas de fato e de direito que seguram a bandeira do samba e nos deram esse presente pra gente poder degustar (risos). Salve, o samba! Salve, os grandes sambistas!
OBatuque.com – Por que a troca de nome?
Rixxxa – A troca de grafia foi a numerologia que eu mesmo fiz. Agora se escreve assim: Rixxxa, um triplo X.
OBatuque.com – Um samba que você gostaria de cantar na avenida?
Rixxxa – Samba da avenida seria Portela 70 e “Heróis da Liberdade”.
OBatuque.com – Uma mensagem para todos os sambistas.
Rixxxa – Uma mensagem para todos os sambistas… Na verdade, eu acho que essa mensagem já foi até gravada pela Alcione, outra grande sambista destaque do carnaval: Não deixe o samba morrer//Não deixe o samba acabar//O morro foi feito de samba//De samba pra gente sambar. Como dizia Nelson Sargento também: Samba agoniza, mas não morre//Alguém sempre te socorre//Antes do momento derradeiro. O samba é eterno, o samba está no nosso sangue e vamos viver a bandeira do samba!