Primeiro dia de desfile do Grupo Especial teve Viradouro, Beija-Flor e Mangueira em destaque
Baterias se destacam e empolgam o Sambódromo
Na noite desta sexta-feira (22), a Marquês de Sapucaí recebeu seis escolas do Grupo Especial: Imperatriz Leopoldinense, Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, São Clemente, Unidos da Viradouro e Beija-Flor de Nilópolis. O desfile iniciou às 22h e cada escola teve o tempo regulamentar de 60 a 70 minutos atravessar a Sapucaí.
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
De volta ao Grupo Especial, a Imperatriz Leopoldinense foi a primeira a pisar no Sambódromo com o enredo “Meninos, eu vivi…onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”, idealizado pela carnavalesca Rosa Magalhães. O tema fala sobre a brilhante trajetória de Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco que conquistou o primeiro título da agremiação, em 1980. Também presta uma reverência a dois grandes nomes da música brasileira e do carnaval carioca: Dalva de Oliveira e Lamartine Babo. O desfile relembrou desde sua formação, no Theatro Municipal, a passagem marcante do artista pelo Salgueiro e pela Mocidade retratados em algumas alas.
A escola chegou opulenta, com fantasias e alegorias impecáveis misturando a estética clássica de Rosa e Arlindo no estilo barroco. A “Certinha de Ramos” estendeu o tapete verde e branco sem nenhuma brecha de espaço, a evolução funcionou com fluidez e regularidade entre todos os setores, além de desenvolver o canto com garra e clareza, mas não empolgou as arquibancadas.
Consagrado nos palcos internacionais, Thiago Soares assinou a comissão de frente. Sobre o elemento cênico, ele trouxe uma locomotiva dourada, com um vagão ladeado de espelhos, onde mulheres de saias rendadas em sua performance realizavam a saída rápida de outras bailarinas prateadas promovendo o reencontro da Imperatriz com as marcas de sua identidade gloriosa. Uma das integrantes teve problema com seu figurino. Parte da roupa caiu em frente a primeira cabine de jurados, o que pode acarretar na perda de pontos nesse quesito.
Bruno Ribas e Arthur Franco, pela primeira vez cantando juntos, comandaram o canto com galhardia, desde o esquenta, começando em alto estilo o primeiro desfile da noite.
Sobre a batuta de Mestre Lolo, a Swing da Leopoldina deu um show à parte, dentre elas a bossa em ritmo de pagode e a outra no refrão do meio do samba com a retomada que remete as caixas de guerra da Mocidade Independente. A rainha de bateria Iza, ovacionada pelo público presente, veio vestida com uma fantasia das cores verde e amarelo representando os matizes brasileiros. Exibindo um belo corpão a cantora esbanjou alegria e muito samba no pé.
O destaque ficou por conta do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Thiago Mendonça e Raphaela Teodoro. Eles homenagearam, com o passo ‘câmera lenta’, Chiquinho e a eterna porta-bandeira da Imperatriz: Maria Helena, que faleceu em março deste ano.
No final, o último carro trouxe dois telões com imagens do patrono Luizinho Drummond, morto em 2020 e também de Joãozinho Trinta com o Cristo Mendigo da Beija-Flor que o eternizou como gênio da folia.
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
A Estação Primeira de Mangueira foi a segunda escola a cruzar a Avenida com o enredo “Agenor, José e Laurindo, em homenagem aos baluartes da verde e rosa: Cartola, Jamelão e Delegado”.
O canto impressionante dos componentes e a emoção que cada um deles eram visíveis em seus olhares. Sem sombra de dúvidas, um dos pontos fortes da escola. As fantasias também impressionaram, foi um show de bom gosto de Leandro Vieira. Com muito volume, as alas tinham acabamentos maravilhosos e de fácil leitura, o mesmo valeu para as alegorias que contaram o enredo de forma clara.
A comissão de frente surpreendeu o público com a troca de roupa acelerada em cima de um tripé. Em questão de segundos, os bailarinos passavam dos tons claros da vestimenta ao vibrante verde rosa.
Já o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel Jorgea, desfilou à frente da bateria personificando a própria comunidade. A bateria Surdo Um, de Mestre Wesley, também fez uma excelente exibição. Os ritmistas levaram bastante alegria, empolgação e um ritmo impecável.
Alguns destaques negativos ficaram a cargo da iluminação do primeiro e segundo carro. As alegorias passaram com algumas luzes apagadas pelos últimos setores da avenida. No quesito evolução em alguns momentos apresentou lentidão.
De peruca rosa e fantasia supercavada, Evelyn Bastos simbolizou a cor dessa nação, com direito a faixa de “cria do morro”.
O intérprete Marquinhos Art’Samba passou durante o desfile e foi atendido por bombeiros em cima do carro de som.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Terceira escola a pisar na avenida, o Acadêmicos do Salgueiro chegou com força total no Sambódromo, descrevendo o enredo “Resistência”, que reverbera a luta, e coragem da população negra para garantir a preservação de sua cultura como territorialidade, a fé, a arte e os movimentos sociais, tão presentes no nosso cotidiano. Fantasias luxuosas, alegorias grandes e bem elaboradas se destacaram na apresentação do desfile.
A comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira também abrilhentaram o espetáculo. Sob o comando do coreógrafo Patrick Carvalho, os bailarinos muito bem vestidos e pintados de bronze como se fossem esculturas, realizaram uma dança de passos rápidos e trouxeram o elemento surpresa, a bailarina internacional Ingrid Silva, se apresentou interpretando Mercedes Batista. Marcella Alves e Sidclei Santos, responsáveis pelo primeiro pavilhão, apresentaram um bailado clássico, impecável e com elegância.
O samba, que não figura como um dos melhores do ano, teve seu refrão cantado a plenos pulmões pelos componentes e o público nas arquibancadas. Por outro lado, os erros de evolução foram o calcanhar de aquiles da escola. Em razão disso, a agremiação pode se comprometer na briga pela posição almejada. Com quase 40 minutos de desfile, ela acelerou o passo e abriu alguns clarões.
Destaque para quarta alegoria Black Carioca que representou o Baile Charme embaixo do Viaduto Negrão de Lima em Madureira. Um grupo coreografado neste setor, dançou ao som de funk e o pagode ganhou a avenida com a ala sobre o bloco Cacique de Ramos.
Outro quesito forte da Vermelho e Branco da Tijuca foi a bateria Furiosa, caracterizados de Caboclo Cobra Coral comandada pelos irmãos Gustavo e Guilherme. Por sua vez, ousou e realizou várias paradinhas ao longo da avenida, além da coreografia onde os ritmistas se ajoelharam e ergueram o punho pela igualdade.
Grávida de cinco meses, Viviane Araújo cruzou a pista com uma fantasia representando a Cabocla Jurema, entidade considerada como a Rainha das Matas em algumas religiões de matriz africana. Apesar do cuidado maior por causa da gestação, a beldade brilhou com seu samba no pé.
SÃO CLEMENTE
Com apelo popular, a São Clemente, a escola de Botafogo, quarta a desfilar, entrou na Sapucaí com a missão de emocionar o público, com o enredo “Minha Vida é uma peça”. A história fala da trajetória do ator e comediante Paulo Gustavo, que faleceu vítima de complicações em decorrência do Covid-19.
Inspirada na preparação do ator antes de entrar em cena, a comissão de frente, de Júnior Scapin, trouxe como a alegoria uma representação de um camarim. As apresentações eram realizadas nesse cenário, com a troca de algumas roupas e descortinava a personagem Dona Hermínia, mãe do ator. Na primeira cabine de jurados, a iluminação do carro não funcionou.
O samba irreverente, marca registrada da agremiação e do homenageado, apesar da boa condução dos intérpretes Leozinho Nunes e Maninho, estreante no cargo, não contagiou a Marquês. Os irmãos Pessanha, Jack e Vinícius, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, simbolizaram os guardiões do portal-teatro do céu. Apresentaram um bailado sincronizado e com leveza, de acordo com as palavras da Jack.
A escola deixou a desejar no quesito evolução. Ainda no setor 1, o carro abre-alas apresentou problemas, refletindo no andamento de toda a escola. A harmonia deu uma segurada por algum tempo, ocasionando uma corrida no final para terminar o desfile dentro do tempo.
A São Clemente apresentou muitos erros e teve que acelerar para não ultrapassar o tempo de 1h10 minutos.
UNIDOS DA VIRADOURO
Um dos desfiles mais esperados desta temporada, penúltima escola da noite, a Unidos do Viradouro trouxe um carnaval pautado no requinte, luxo e grandes dimensões. O enredo “Não há tristeza que pode suportar tanta alegria”, realizado pelos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon, acertaram a mão na plástica apresentada.
Com todos os quesitos realizados na plenitude, a fantasia da comissão de frente intitulada como “E o mundo não se acabou”, foi inspirada na publicação do matinal “O Paiz, em 3 de março de 1919, que faz referência à vingança do carnaval sobre as restrições impostas, na luta contra a pandemia da Gripe Espanhola. Um momento muito parecido com o atual, onde aos poucos estamos nos despedimos da Covid-19.
Completando 25 anos de avenida, a porta-bandeira Rute Alves celebrou o casamento de 15 anos com o mestre-sala Julinho. Um bailado com muita força e coreografia, o casal mesclou tradição e modernidade.
Um show à parte do intérprete Zé Paulo que fez uma apresentação impecável e vibrante. Outra característica do cantor é a personificação no dia do desfile. Com muita energia, em vários momentos, ele entrava no meio das alas para incentivar e dar aquele gás extra aos componentes.
Outro ponto alto foi a bateria do “Caveira”, do famoso mestre Ciça. O mestre levantou a Sapucaí e deu um toque especial à performance dos pratos. Sem problemas aparentes, a Viradouro finalizou a sua apresentação dentro do prazo.
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Na briga pelo título, a Beija-Flor de Nilópolis encerrou a primeira noite de desfiles do Grupo Especial, com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada. A escola abordou a luta contra o racismo e a intolerância. A agremiação nilopolitana trouxe o protagonismo negro para o centro da discussão. O desfile, com a plástica perfeita, teve como um dos pontos altos o canto da comunidade, característica da azul e branca.
Marcelo Misailidis, coreógrafo da comissão de frente, detentor de vários prêmios, propôs no início do desfile o reencontro do povo negro com o seu passado. A comissão era composta por componentes que representavam os escravos em um navio negreiro. Durante a apresentação, um led em cima da composição apresentava notícias sobre casos de racismo.
Velhos conhecidos do mundo do samba, o casal de porta-bandeira e mestre-sala, Selminha Sorriso e Claudinho, com uma fantasia luxuosa, veio representando o “Esplendor de Kemet”, ‘o giro irradia poder de ancestral, reluz o imponente do pavilhão e refaz nossos caminhos’. O bailado apresentou leveza, suavidade e conquistou as arquibancadas, mas em alguns momentos o salto quebrado prejudicou um pouco a apresentação da Selminha. Sem realizar muitas bossas, a bateria dos mestres Rodney e Plínio manteve o ritmo durante toda a Sapucaí, contagiando o público.
O ponto negativo do desfile foi a ausência de algumas composições de um dos carros alegóricos, colocando em check a pontuação máxima da agremiação. Por outro lado, com harmonia e evolução sem problemas, a escola finalizou o desfile dentro do tempo regulamentar, sem problemas e arrastou a multidão da avenida.