Mães baianas lavam a Sapucaí; Vila Isabel e Viradouro testa luz e som

Mães baianas lavam a Sapucaí; Vila Isabel e Viradouro testa luz e som

O ritual aconteceu sob forte temporal que caiu durante todo o cortejo, lavando a alma dos sambistas

Por Luis Leite

Debaixo de muita chuva, mães baianas de várias escolas de samba, munidas com água de cheiro, ervas e defumadores, realizaram na noite deste sábado (11), a tradicional lavagem da pista de desfiles da Marquês de Sapucaí. O ritual é uma prática que atrai, segundo crenças religiosas, boas energias positivas para o carnaval. A imagem de São Sebastião abriu o desfile junto com a Corte Real.

A cerimônia contou com a presença de diversos grupos carnavalescos, integrantes das velhas guardas e crianças, que além de ritmistas das agremiações, formaram uma bateria única para embalar sambas-enredo clássicos interpretados pelo cantor e compositor Dudu Nobre. Casais de mestre-sala e porta-bandeira com os pavilhões das escolas também abrilhantaram a iniciativa, simbolizando a magnitude e a importância delas para as comunidades que se prepararam ao longo do último ano para a folia. O prefeito Eduardo Pães também prestigiou o evento. Na ocasião, ele discursou exaltando Laíla, um dos maiores baluartes querido e respeitado no mundo do samba, que faleceu no ano de 2021, em decorrência da Covid-19.

Após o cortejo, a Unidos de Vila Isabel foi a primeira escola a fazer o teste de luz e som na avenida, trazendo as celebrações de origem religiosa que há séculos fazem parte da cultura brasileira por meio do enredo “Nessa festa, eu levo fé”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.

Transformando rapidamente a Sapucaí num verdadeiro espetáculo a céu aberto, o intérprete Anderson dos Santos, mas conhecido como Tinga, entoou sambas de outrora para aquecer a voz do morro e por várias vezes dizia: “chuva forte lá na Vila é garoa”, uma forma de incentivar os desfilantes para não desanimar por causa do temporal que atingiu a cidade do Rio antes do ensaio. Tinga conduziu o canto do início ao fim com muita vibração, chamando o público o tempo inteiro.

Estreantes na Azul e Branca da Terra de Noel, Alex Neoral e Márcio Jahu trouxeram uma comissão com os integrantes que faziam menção ao Halloween (vampiros, noiva-cadáveres, múmias e bruxas) e surpreendeu ao trazer a Wandinha Addams, personagem da atualidade do público infanto-juvenil. Eles apresentaram uma performance precisa, alegre e hipnotizante, trazendo movimentos da série para a coreografia.

Sobre a pista molhada, demonstrando entrosamento e um bailado sincronizado, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Cristiane Caldas e Márcio Siqueira, veio com uma indumentária muito elegante. Trouxeram novidades ao ter os guardiões interagindo com o casal ao longo da apresentação. Outro fator que chamou a atenção nas simulações em frente a cabines de jurados foi a forma de apresentação do pavilhão, quando a bandeira era desfralda, o mestre-sala a segurava quase que de costas, fazendo assim um gestual ousado e diferente do tradicional.

Cria de Vila Isabel, mestre Macaco Branco apresentou duas bossas que interagiam as arquibancadas. Afiada e confiante, ensaiando desde agosto, a bateria Swingueira de Noel passou bem, mantendo a sustentação da cadência o tempo todo.

A frente dos ritmistas mostrando toda sua desenvoltura, a rainha Sabrina Sato surgiu com uma fantasia de noiva, coberta de pérolas, trazendo um tipo de festejo. Antes da largada, a beldade distribuiu rosas vermelhas e brancas no setor 1.

Um dos destaques foi a evolução e o canto forte da comunidade, demonstrando que os ensaios da Avenida 28 de Setembro têm surtido efeito. Os componentes pisaram na Sapucaí com todo gás, evoluindo do início ao fim. As musas vieram com samba no pé e na ponta da língua, além de terem investido no figurino. 

Gabriel Castro, diretor da Ala de Passistas, trouxe um elemento cenográfico, relembrando o campeonato do ano de 2013 com o enredo “Festa no Arraiá”.

No último setor da escola, Deus Baco desfilou a sua luxúria num carro conversível. A velha-guarda veio com uma roupa clássica e elegante dando um toque especial.

Depois da Vila, foi a vez da Unidos do Viradouro fazer o seu treino. A escola contará, por intermédio do carnavalesco Tarcísio Zanon, a história da santa africana Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Sua vida oscila entre o profano e o sagrado.

Presidente de honra Marcelo Calil, mas conhecido como Marcelão, em seu discurso chamou a comunidade: “É aqui que se ganha o carnaval. O nosso carnaval está pronto, agora é com vocês. O brilho no olhar continua”, ressaltou. 

A agremiação de Niterói, trouxe nos primeiros setores a África, representada através de movimentos, indumentárias e adereços. Mulheres com o rosto pintado, lança nas mãos, tecidos que lembravam os africanos dando um toque especial, além das expressões fortes e o canto em alta. 

A comissão de frente, comandada pelo casal Priscilla Mota e Rodrigo Nigre, com figurino das cores vermelho e dourado, trouxe uma dança com movimentos fortes vigorosos que remetem à cultura afro. Causando grande impacto, em alguns momentos da apresentação umas das bailarinas era colocada no manto de um elemento cênico, que na elevação, se transformava em santa. 

Os experientes Rute Alves e Julinho Nascimento, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, imprimem na dança o conjunto de elegância e sincronismo no bailado com uma apresentação impecável. A dupla usou roupa branca, aparentemente de tecido leve com a homenageada estampada no centro. Uma curiosidade: Rute, que geralmente usa ‘botinhas’, optou por uma sandália rasteira. 

Um samba diferenciado, cheio de lirismo, foi conduzido muito bem pelo cantor Zé Paulo Sierra e seu time de canto que deram um show. A bateria Furacão Vermelho e Branco, de mestre Ciça, foi outro destaque com o ritmo cadenciado, permitindo que os desfilantes pudessem evoluir sem correria.

A atriz Erika Januza, rainha que vem conquistando o público, optou por uma roupa bem leve. Simpática e atenciosa, ela foi ovacionada por onde passava. 

A escola trouxe muitos destaques performáticos. Destaques para o canto forte e a evolução perfeita. Viradouro acertou a mão!

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