Império Serrano sai ovacionada pelo público e leva o Estandarte de Ouro de Melhor Escola do grupo

Império Serrano sai ovacionada pelo público e leva o Estandarte de Ouro de Melhor Escola do grupo
Abre-alas da Lins Imperial

Problemas em alegorias marcam o segundo dia de desfiles da Série Ouro

O segundo dia de desfiles das escolas de samba da Série Ouro começou às 21h30, nessa quinta-feira (21), feriado de Tiradentes, com a Lins Imperial. Na sequência, vieram Inocentes de Belford Roxo, Estácio de Sá, Santa Cruz, Unidos de Padre Miguel, Acadêmicos de Vigário Geral, Império da Tijuca e Império Serrano. Os desfiles aconteceram com a presença de um público maior do que o primeiro dia e um tempo agradável e com temperatura amena.

LINS IMPERIAL

Depois de 11 anos longe da Marquês de Sapucaí, a escola de samba Lins Imperial chegou com vontade de fazer um belo espetáculo, e em especial com a comunidade que ensaiou incessantemente o ano inteiro. A agremiação abriu os desfiles com o enredo “Mussum pra sempris – traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba”, uma homenagem ao comediante Antônio Carlos Bernardes, mais conhecido como Mussum, morto em 1994.

O início do desfile trouxe as cores da agremiação e a comissão de frente que representou “Na subida do morro é diferente”. O segmento fez uma alusão aos sambistas da Lins, ao grupo Originais do Samba, ao Kid Mumu e à exaltação ao morro.

O samba fácil de cantar, de autoria do compositor Arlindinho Cruz, teve um bom desempenho na voz dos intérpretes Rafael Tinguinha e Lucas Donato, que estrearam na escola.

Outro estreante na Lins Imperial foi Jackson Senhorinho, atual segundo mestre-sala da Unidos de Vila Isabel. Jackson fez par com a experiente Manoela Cardoso. O casal se apresentou com uma bonita indumentária que representa “A natureza exuberante do Morro da Cachoeirinha, segundo a fala dos moradores da Comunidade”.

Dividida em cinco setores e três carros alegóricos, a escola passou cantando e evoluindo durante todo o percurso da Passarela do Samba. Com uma quantidade considerável de musas e musos, que abrilhantaram o desfile, a escola trouxe uma corte à frente da bateria de mestre Átila, o rei Johnathan Avelino, a rainha Danny Fox e a madrinha Bianca Ramos. A bateria cadenciada em alguns momentos fez alusão à Estação Primeira de Mangueira e com direito a coreografia. A Lins desfilou dentro do prazo regulamentar, e seus integrantes comemoraram o encerramento com a sensação de dever cumprido. 

INOCENTES DE BELFORD ROXO

Logo após, a Inocentes de Belford Roxo se apresentou com o enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, que apresenta os festejos e ritos de preservação da tradição afro-brasileira que acontece anualmente em Recife.

A Inocentes trouxe um conjunto alegórico composto por três carros, no entanto apresentou problemas com a direção do carro-abre alas. A equipe da força teve que trabalhar intensamente para cruzar a linha de final do desfile.

Por outro lado, o conjunto da comissão de frente foi um dos mais elaborados do grupo: tripé, fantasia e a maquiagem artística deram um toque especial ao trabalho da coreógrafa Juliana Frathane, segundo ano consecutivo na escola. Eles representaram “O elo entre os dois mundos”.

Já o carro de som ganhou reforço para a temporada de 2023. Além do intérprete Tem Tem, o carro foi composto por Luizinho Andanças e Leleu. O trio entoou o samba assinado pelos compositores Cláudio Russo e Júnior Fionda, entre outros. O samba, porém, não empolgou a Sapucaí da forma que se esperava.

Outro estreante da Inocentes e discípulo de Washington Paz, mestre Juninho manteve o trabalho já iniciado pelo antigo comandante. À frente da bateria Cadência da Baixada, Juninho passou com seus ritmistas com bastante segurança.

ESTÁCIO DE SÁ

Terceira escola da noite a pisar na avenida, a Estácio de Sá reeditou o enredo de 1995, quando o Clube de Regatas do Flamengo comemorou seu centenário, cujo título era “Cobra Coral, Papagaio Vintém, vestir rubro-negro, não tem pra ninguém”.

Ariadne Lax, coreográfa da comissão de frente, exaltou o “manto” rubro-negro na fantasia que representou o “vestiário”: um clima de pré-jogo, resenha e descontração. Uma coreografia teve uma performance com movimentos vibrantes.

Na sequência do desfile, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Alcione e Feliciano, fez uma dança precisa e segura, personificando com gestos de comemoração feitas em campo pelo atual jogador do Flamengo Gabigol.

Um dos momentos marcantes do desfile foi o canto e a evolução, que funcionaram ao longo da pista. Por ironia do destino, o intérprete vascaíno Serginho do Porto, com o caco “alegria, alegria, vamos lá!”, incentivava os brincantes para cair no samba. Nesta releitura, os carnavalescos Wagner Gonçalves e Mauro Leite optaram por uma escola mais colorida e com outros elementos para a história. Diferentemente do desfile de 1995, no qual a Estácio apresentou um desfile nas cores rubro-negras. O último carro, “Festa na favela”, com um olhar estético urbano e com toda pluralidade do Flamengo, trouxe os sósias dos atuais jogadores que são comumente vistos nas partidas no Maracanã do clube rubro-negro.

A bateria de mestre Chuvisco também apresentou um ritmo menos acelerado do que o desfile original em 95. Com um contingente grande, no final do desfile a escola precisou acelerar o andamento para terminar a apresentação dentro do prazo. 

ACADÊMICOS DA SANTA CRUZ

Depois da Estácio, a Acadêmicos de Santa Cruz se apresentou com o enredo “Axé, Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz”. A história falava da vida e de personagens do ator.

Logo no início, ficou claro que a comissão de frente optou por não trazer elementos cênicos e apostou na dança e na teatralização. Trouxe durante a performance as lembranças de Monte Santo, lugar onde nasceu Milton Gonçalves, por meio do Catupé e da coroação do rei.

Devido a um acidente vascular cerebral (AVC), o homenageado não pôde participar do desfile, mas muitos artistas e o filho do ator, Maurício Gonçalves, participaram da festa. O bom samba, mas sem nenhum ponto alto de explosão, não aconteceu na avenida. 

Há oito carnavais juntos, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Roberta Freitas e Carlos Eduardo, mais conhecido como Mosquito, apresentou um bailado tradicional e elegante.

“Eles não usam black-tie”, nome de uma das peças mais famosas protagonizadas pelo ator Milton, foi o tema da fantasia da bateria de mestre Riquinho. A indumentária fez uma menção à ida de Milton ao teatro de Arena e ao sucesso que alcançou com esse espetáculo. 

A escola veio mais compacta e com carros alegóricos e fantasias sem luxo, entretanto o conjunto transmitiu a ideia do carnavalesco. Na reta final do desfile, a última alegoria apresentou um problema para se locomover, e com isso abriu um “buraco” na pista, prejudicando a harmonia e a evolução. 

UNIDOS DE PADRE MIGUEL

Outra escola que chegou à Marquês de Sapucaí para brigar pelo título, a Unidos de Padre Miguel, com o enredo “Iroko – É tempo de Xirê”, que conta a história da árvore-orixá ao terreiro sagrado do boi, trouxe a sabedoria do tempo.

Com três carros alegóricos imponentes, além do elemento cênico e do pede-passagem, que é o símbolo da escola, as fantasias também estavam de alto nível levando em conta a luxuosidade.  Os “Guardiões do Tempo” abriram o desfile na comissão de frente, de David Lima, que conseguiu unir a emoção à tecnologia. Uma dança tradicional, mas com inovação, foi uma das características de Jéssica Ferreira e Vinícius Antunes, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. A fantasia “sopro da criação” foi confeccionada com muito requinte e bom gosto.

Apesar de toda imponência, o abre-alas que representava “A grande árvore sagrada” expos problemas para se locomover e mais uma vez a equipe da força foi fundamental para não deixar que o contratempo se agravasse. O carro de som deu um show, sob o comando dos intérpretes Diego Nicolau e Guto. Da mesma forma, a bateria de mestre Dinho passou com ótimo andamento, junto com o canto da comunidade e garantiu uma boa evolução ao longo do desfile. 

VIGÁRIO GERAL

Quase encerrando o segundo dia de desfiles da Série Ouro, a Vigário Geral trouxe para a Sapucaí o enredo “Pequena África”, que conta a história da região Portuária do Rio, enaltecendo sua população e seus valores.

Ajudados pelo bom samba-enredo, os destaques ficaram a cargo do canto da comunidade e da bateria de mestre Luygi. Mesmo sendo da nova geração, Luygi tem experiência desde a escola mirim. Porém é figura frequente em outras baterias. Ele participou de vários desfiles e ainda tem mais dois dias de desfiles pelo Grupo Especial. O tema africano permitiu que ele inserisse muitos elementos na sua apresentação.

Um dos problemas recorrentes nos desfiles deste ano aconteceu também com a Vigário, que teve dificuldades de locomoção com o último carro. A escola contou com a ajuda de reforço para levar até a dispersão, formando um buraco na pista e comprometendo assim a evolução. 

IMPÉRIO DA TIJUCA

Penúltima a desfilar, a Império da Tijuca, do Morro da Formiga, com o enredo “Samba Quilombo – A resistência pela raiz”, exaltou o valor ancestral.

Com muita clareza no tema e organizada, a escola fez um desfile leve, vibrante, com “samba no pé” e o canto da comunidade, principalmente no refrão. A voz grave do intérprete Daniel Silva foi o combustível para manter a comunidade cantando e em constante evolução, ainda mais com a bateria cadenciada de mestre Jordan.

O Império da Tijuca geralmente realiza bons desfiles, sobretudo quando traz a temática africana. O carnavalesco Guilherme Estevão convidou artistas de diversas escolas para vir como destaque das alegorias. A comissão de frente representou ancestralidade e raiz. A porta-bandeira Raphaela Caboclo integrou a comissão com uma apresentação emocionante.  A agremiação encerrou o desfile dentro do prazo regulamentar. Na plástica, as alegorias, assim como as fantasias não causaram impacto visual.

IMPÉRIO SERRANO 

Favorita na dispulta pelo titulo, o Império Serrano realizou um desfile impecável e arrebatou a multidão na Sapucaí. Engasgados com o último desfile, os imperianos saíram da Passarela do Samba de alma lavada. Com o enredo “Mangangá”, a agremiação contou a história de Manoel Henrique Pereira, um dos capoeiristas mais famosos da Bahia.

Referência em comissões de frente com a temática africana, Patrick Carvalho apresentou um roncó como elemento cênico, trata-se de um espaço sagrado onde ficam recolhidos os iniciados no candomblé. Uma coreografia firme e com rituais da religião de matriz africana.

Nos quesitos evolução e harmonia, a escola foi bem e teve na plástica, beleza e requinte dos figurinos. O Império trouxe dois estreantes para o dois segmentos: Igor Vianna, que conduziu perfeitamente o carro de som ao lado de Nêgo, e de mestre Vitinho, no comando da Sinfônica do Samba, que realizou bossas bem elaboradas e execução precisa.

Mil e quinhentos faisões albinos compuseram a roupa da porta-bandeira Verônica Lima e do mestre-sala Matheus Lima. Os dois representaram Exú de Oxalá. Além do bailado tradicional, no final da apresentação fizeram uma dança emocionante para o orixá.  

O Império Serrano encerrou o desfile ovacionado pelo público na Sapucaí. A escola candidatou-se ao título da Série Ouro de 2022.

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