Grande Rio e Vila Isabel são destaques da segunda noite de desfiles  

Grande Rio e Vila Isabel são destaques da segunda noite de desfiles  
Abre-alas da Tuiuti - por Luis Leite

Chega ao fim a temporada do Carnaval 2022 no Rio de Janeiro 

O último dia de desfile do Grupo Especial aconteceu sábado (23), no Sambódromo. O espetáculo ficou por conta das escolas Paraíso do Tuiuti, Portela, Unidos da Tijuca, Mocidade, Acadêmicos do Grande Rio e Unidos de Vila Isabel, que encerrou o desfile ao clarear do dia. 

PARAÍSO DO TUIUTI  

A Paraíso do Tuiuti chegou à Sapucaí com a força do enredo “Ka ríba Tí ye”. Mais um tema que abordou a cultura negra, assim como Acadêmicos do Salgueiro e Beija-flor no primeiro dia de desfiles. Em busca do título inédito, a escola levou para a avenida homens e mulheres negros que marcaram a história da humanidade. 

Destaques para o canto, alegorias imponentes e muita beleza. Por outro lado, a evolução e harmonia foram prejudicadas por causa de um dos carros que ficou preso na concentração. A escola ficou parada por mais de 30 minutos, o que automaticamente provocou a correria no final do desfile, até a ultrapassagem do tempo em 2 minutos, com a penalização em 2 décimos. 

“A criação do homem”, fantasia da comissão de frente, comandada pela coreógrafa Cláudia Mota, representa a cena em que Oxalá modela o barro e cria o homem. 

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane, apresentou um bailado sincronizado. Ao término do desfile, a porta-bandeira foi pedida em casamento. 

Thay Magalhães, rainha de bateria, teve problemas com sua fantasia e ficou com seios de fora. A princesa Mayara Lima durante sua performance arrebentou a parte do tapa-sexo deixando a genitália à mostra. Foi preciso achar uma calcinha às pressas para seguir desfilando. 

Outro destaque alegórico foi o carro que representava “Wakanda”, do filme “Pantera Negra”. De forma semelhante, um fator que encantou o público, foram alguns componentes personificados como Beyoncé, Mercedes Batista, Barack Obama e outros que vieram em cada ala. Apesar da evolução comprometida, um dos intérpretes, Celsinho Moody, bradava: “Acredita, Tuiuti!”. 

Uma integrante passou mal no final do desfile, enquanto recebia atendimento foi atingida por um carro alegórico da própria escola. 

PORTELA 

Azul e Branca de Madureira foi a segunda a pisar no Solo Sagrado da Marquês de Sapucaí, na qual retratou a simbologia dos Baobás, ressaltando a importância das gigantescas e milenares árvores africanas que representam a ancestralidade e religiosidade, desenvolvido pelos carnavalescos Renato e Márcia Lage. 

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Lucinha Nobre, cativou o público com a perfeição de suas performances. 

No terceiro carro havia savana, onde os Baobás se espalharam pelos terrenos. Apesar da beleza e acabamento, apresentou um problema para encaixar as duas partes do globo. O abre-alas por sua vez também teve dificuldades nos setores 1 e 9, abrindo um buraco no desfile. O samba criticado no período de disputa, passou bem, mas longe de contagiar o público. 

MOCIDADE

Com o enredo “Batuque ao Caçador”, homenagem ao orixá Oxóssi, a Mocidade Independente de Padre Miguel surpreendeu com o início de desfile magnífico, porém na sequência, alguns erros na evolução e alegorias deixaram a escola com uma interrogação sobre o título.  

Numa apresentação pontuada por vários destaques, um dos principais foi a comissão de frente, coreografada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, que simbolizou “Oxóssi é caçador de uma flecha só”, trajados com belo figurino e auxiliado por um bonito tripé. A apresentação ainda trouxe tambores, que interagiam e se movimentam sozinhos, comandados pelos componentes. 

Pelo segundo ano consecutivo dançando juntos como primeiro casal, o Bruna Santos e Diogo Jesus fizeram uma dança repleta de expressividade e marcante. Muito aplaudidos pelas arquibancadas, eles vieram representando “Mutalambô”. 

Geovana Angélica, rainha da bateria, desfilou com a cabeça raspada, da mesma forma que os integrantes da bateria. Ela veio personificando o espírito de Ketu, um reino marcado por lutas e resistência. Já o mestre Dudu abusou da versatilidade com suas paradinhas afros. 

A agremiação apresentou graves erros de evolução por conta de problemas técnicos em algumas alegorias. O abre-alas triplo desacoplou e chegou a ficar descontrolado no primeiro modulo de jurados, o suficiente para que um buraco fosse aberto em frente ao setor 3. Semelhantemente, o carro do elefante também teve dificuldade de entrar na avenida, além de falhas no acabamento e a parte traseira, com a iluminação apagada.   

UNIDOS DA TIJUCA

Vem brincar no Borel! A comunidade da Unidos da Tijuca trouxe a essência dos êres para cruzar a Sapucaí. Quarta escola a desfilar com o enredo “Waranã – A reexistência vermelha”, do carnavalesco Jack Vasconcelos, a Tijuca passou com um chão forte e passou sem cometer erros graves, no entanto não empolgou o público. 

Estreando como intérprete oficial ao lado do pai, o consagrado Wantuir, Wic Tavares se apresentou digna de ganhar o prêmio revelação. Com uma voz grave, deu um toque especial à interpretação do samba cantado ao longo da passarela. 

Destaque para a comissão de frente, que durante a performance, trouxe o renascimento do curumim Kahuê contagiando os expectadores. 

Na plástica, a escola apresentou fantasias simples, leves, coloridas e com uma leitura difícil. 

GRANDE RIO 

De olho no caneco, Grande Rio saiu da avenida com gritos de “é campeã”. A penúltima escola da noite optou mais uma vez por um tema religioso: ”Fala Majeté! Sete chaves de Exu”. O enredo incorpora as manifestações culturais ligadas à simbologia e à história do Orixá Exu, desenvolvidos pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. 

O clima tomou conta do espetáculo, logo no esquenta, o intérprete Evandro Malando jogou para o público: “Boa noite, moça! Boa noite, moço!”. O público respondeu entrando no clima. Na lista do top 10, o samba da escola foi considerado como um dos melhores, acostumado a ser bradados nos ensaios lá pelas bandas da Baixada.  A comunidade não deixou a desejar, cantou e evoluiu na mesma proporção. A atmosfera do povo de rua era percebida nos componentes 

Um dos pontos altos do desfile foi a comissão de frente, que trouxe muita teatralização com danças fortes e de passos afro. No tripé, a figura que representava Exu subiu numa alegoria que fazia alusão a um planeta e encenou de forma precisa e impressionante, a ponto de deixar jurados e espectadores vidrados na cena.  No geral, uma passagem marcante que impulsionou a forte abertura da agremiação. 

Desde que ascenderam ao posto de primeiro casal da Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto vêm demonstrando personalidade na dança. Além de estarem bem vestidos, apresentaram um bailado com graciosidade e elegância. 

Tendo notas máximas desde que assumiu a bateria da Invocada, mestre Fafá colocou em prática tudo o que tinha sido proposto e acertou os erros dos ensaios técnicos. Um show à parte.  

A Tricolor de Caxias completou o desfile aguerrido e finalizou a apresentação no tempo regulamentar.  

UNIDOS DE VILA ISABEL 

A Unidos de Vila Isabel encerrou em grande estilo os desfiles do Grupo Especial do Carnaval 2022, com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila é do Martinho”, realizado pelo carnavalesco Edson Pereira. O homenageado Martinho da Vila brindou o público com a aparição na comissão de frente e na sequência na última ala, onde amigos e familiares fizeram a festa. 

Sob o comando do intérprete Tinga, a escola cantou muito e evoluiu ao som do samba do compositor André Diniz e parceiros, o maior vencedor de samba-enredo da agremiação. O compositor, que estava acompanhando o carro de som, por vários momentos não conteve a emoção e veio às lágrimas. E não é para menos: um samba aprovado pelo próprio homenageado. 

Mestre Macaco Branco, aniversariante da semana, apresentou sua bateria com os ritmistas mais elegantes da temporada. Inspirado na canção “Pequeno Burguês”, os músicos estavam vestidos de farda representando o Sargento Martinho. 

A comissão da Vila Isabel representou o “Trono de Omulu, a ascensão de um novo rei”. Enquanto um griô, junto a guerreiros africanos apresenta a ancestralidade do sambista, Martinho é coroado Rei negro de Vila Isabel, sob a responsabilidade do coreógrafo Márcio Moura. 

Cris Caldas e Marcinho Siqueira, casal de mestre-sala e porta-bandeira, apresentaram um bailado sincronizado e com passos coreografados. Interpretando a força e o axé de Zambi, o casal usava fantasias nas cores da escola, além de preto, bege e branca na saia da porta-bandeira. 

Com desfile correto, uma comunidade cantando e evoluindo, a Azul e Branco de Noel encerrou o desfile dentro do prazo regulamentar. 

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