Luiz Paulo de Oliveira, o “Luizinho da Cuíca” 

Luiz Paulo de Oliveira, o “Luizinho da Cuíca” 

Por Luis Leite

Fotos: Arquivo pessoal

Luiz Paulo de Oliveira, o Luizinho da Cuíca, nasceu no bairro do Andaraí, onde morou por 34 anos e hoje, aos 58, reside em Quintino Bocaiúva. Foi no ano de 1979, que ele conheceu o carnaval, pela Unidos de Vila Isabel, onde desfilou pela primeira vez no carnaval. Amigo da família Garcia, da qual Seu Miro era amigo de sua família. Luizinho chegou ao Salgueiro em 1981, onde em pouco tempo ficou amigo dos irmãos Lourival de Souza Serra, o Mestre Louro, e Georgete de Souza Serra, filhos de Dona Fia, mãe do saudoso Almir Guineto.

Luizinho da Cuíca resolveu deixar a área administrativa da escola, para ser componente, mais um na bateria, no coração da escola.

No Salgueiro, ele conviveu e conheceu algumas personalidades, e entre essas Fernando Pamplona, Didi, Zé Di, Zuzuca, Gracia, César Veneno, Rico Medeiros e muitas outras personalidades do carnaval, porque o Salgueiro era verdadeiramente um Celeiro de Bambas.

No ano de 1988, aconteceu uma discussão séria com o Mangano, que depois seria presidente da escola, com isso Luiz largou o cargo na diretoria. E foi aí que surgiu a cuíca na sua vida.

“Mestre Louro ficou sabendo através de sua irmã que eu estaria fora do desfile e pediu que alguém me chamasse. Quando me aproximei de Louro para saber o que estava acontecendo, ele disse o seguinte: ‘Compre uma cuíca. Você vai aprender a tocar comigo, e nunca mais ninguém dirá para você que você está fora da tua escola’”, contou Luizinho.

E foi o que Luiz fez. Até porque, segundo ele, quando era ainda um garoto, não se cansava de ouvir os sambas-enredos. Luizinho ficava balbuciando o som da cuíca, misturado ao ritmo na vitrola.

No ano de 1992, Luiz e mais alguns amigos, entre eles o Joãozinho, da União de Jacarepaguá; Hildebrando, da Portela; Reginaldo e Hélio Naval, ambos do Império Serrano; e mais alguns ritmistas se reuniram na quadra da União de Jacarepaguá para um churrasco, uma confraternização, mas com a intenção e tendo como foco fazer crescer o número de cuícas nas baterias das escolas de samba, tanto as escolas do Grupo Especial, do Grupo de Acesso, quanto da Intendente Magalhães. O objetivo era fazer algo em prol da cuíca, já que ela começava a entrar em extinção, sumindo de algumas baterias.

“O foco principal era o amor pelo instrumento e pelo ritmo da cuíca. Alguns anos depois, a cuíca voltou a ser respeitada, como na era na década de 80, onde Zizinho, Bebel, Paixão, Fernando, Carlinhos da Cuíca e vários outros amigos faziam o melhor dos ritmos com o instrumento nos braços”. Essa data do dia 21 de Abril, é hoje conhecida como Dia Nacional da Cuíca em todo o mundo. E hoje não é só em todo o Brasil, mas até em Tóquio, no Japão, comemora-se esse dia”, explicou Luizinho.

No ano de 2003, Louro saiu do Salgueiro, e Luizinho, a convite do mestre, o acompanhou.

Foram dois anos na Caprichosos de Pilares e depois mais dois anos na Porto da Pedra. E a Porto da Pedra foi a última bateria de escola de samba que Mestre Louro comandou: “Com a morte do meu amigo, eu perdi a vontade em dar prosseguimento a tudo relacionado a Carnaval. A minha vida ligada ao ritmo ficou difícil, era complicado olhar para a frente e não ver meu amigo. Fiquei um ano parado, sem desfilar, e longe do ritmo. Até que um dos meus tios, na época morador no Morro da Mangueira, insistiu que eu fosse até lá. Não existe escola que respeite tanto o ritmista como faz a Mangueira, e isso até hoje. A Verde e Rosa é uma escola de samba sensacional! Fui muito bem-recebido por todos. E na Mangueira desfilei como se estivesse na minha escola, foi amor à primeira vista”.

Entre as escolas que conheceu e desfilou, depois que saiu do Salgueiro, Luizinho já passou pela Caprichosos de Pilares, Porto da Pedra, Mangueira, Tuiuti, Imperatriz Leopoldinense, Inocentes de Belford Roxo, Curicica, União da Ilha, Renascer de Jacarepaguá e tantas outras. Mas deixa bem claro, que isso só aconteceu porque ficou longe do Salgueiro, segundo ele: “a sua casa”. E até hoje quando entra na pista de desfile, fica difícil não imaginar o Salgueiro e ter ao seu lado o amigo de sempre: o mestre Louro. Para ele, fica impossível evitar as lágrimas.

O Bloco das Cuícas

O Bloco das Cuícas surgiu de um bate-papo com o amigo Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador e responsável pelo Trem do Samba, que vai da Central do Brasil a Oswaldo Cruz. Conversando com Marquinhos, Luiz perguntou sobre o que achava da ideia de um bloco formado apenas com cuícas, e ele achou a ideia fantástica e perguntou se era possível colocar isso em prática. E no ano de 2012, surgiu o Bloco das Cuícas, onde a base do ritmo é realizada pelos mestres de bateria: Thiago Diogo; Washington Paes, Dinho, Alexandre; Xula, Mug, Armando; e o Padrinho das Cuícas Mestre Odilon Costa.

Apesar da trajetória, Luizinho da Cuíca pararia de vez em razão da “modernidade” e até de algumas “invenções” no ritmo, no entanto mais um pedido lhe fez repensar essa ideia: “Eu iria parar de vez com o carnaval, estando diante de tantas situações ‘modernas’ existentes hoje, e as quais eu não concordo com várias, principalmente as ligadas à sonoridade que alguns inventam nos dias de hoje. Mas um pedido do amigo Odilon Costa, para que eu ajudasse um amigo dele, e esse amigo não tinha um naipe de cuícas na bateria. E os dois me fizeram rever algumas situações. Hoje estou ao lado de um ser humano diferenciado fantástico e que conhece do ritmo e sendo aquele ritmo da antiga, tudo fica mais fácil! Esse amigo se chama mestre Dinho, da Renascer de Jacarepaguá. É ele quem ainda me faz ritmar com vontade, e como diz o Odilon: ‘mostrar a verdade no ritmo, é a obrigação daquele que sabe fazer”.

Hoje alguns o rotulam como O Polêmico, pelo simples fato de falar o que vê, o que ouve sobre o ritmo, “porque a cuíca é simplicidade, sem a necessidade de invenções, e quanto mais simples, mais bonito fica o seu som. A cuíca é amor ao ritmo, é paixão…, e ela merece respeito!

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