Porto da Pedra e União da Ilha se destacam na última noite de desfiles da Série Ouro

Porto da Pedra e União da Ilha se destacam na última noite de desfiles da Série Ouro

Por Luis Leite e Angélica Zago

A missão de abrir os desfiles da segunda noite da Série Ouro, no último sábado (18) após sete anos afastada da Sapucaí, ficou com a União de Jacarepaguá, cujo enredo falou de “Manuel Congo e Mariana Crioula – Heróis do Vale do Café” e chegou com vontade na passarela do samba. 

A comissão de frente, comandada pela dupla Fabrício Ligeiro e Márcio Vieira, ambos da equipe do Marcelo Misailidis, trouxe muita interpretação, dança e a participação dos atores Cridemar Aquino e Isabel Fillardis, vestidos com roupa de época. Durante a apresentação, um dos bailarinos caiu. 

Com uma plástica simples, mas de fácil leitura, para uma instituição que acabou de subir para o grupo, a escola fez um desfile organizado, dentro das condições possíveis. 

Natália Monteiro e Rogério Júnior, que compreendem o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, representaram as “Riquezas Africanas”. Estreantes da Sapucaí, os dois fizeram uma performance segura. A escola não poupou esforços para colocar a dupla bem vestida, com a indumentária em tons de verde, dourado, preto e marrom e muitas plumas.   

No comando do canto da escola, Zé Paulo e Leléu, acostumados com essa rotina, seguraram o canto, cujo refrão se destacou para o público. Durante o desfile, a bateria do mestre Marquinhos fez o dever de casa e apresentou um trabalho impecável. John Avelino, rei de bateria, reinou ao lado da madrinha vitalícia Amanda Mattos. 

Com problemas em dois carros alegóricos, a evolução foi o calcanhar de Aquiles da União. A agremiação abriu um buraco em frente a um dos módulos da cabine de jurados. A chegada na dispersão também foi problemática, fazendo com que os desfilantes saíssem pela lateral do carro, já que ficou um certo tempo no meio da pista. A União fechou o desfile com 56 minutos, portanto será penalizada com 1 décimo. 

Unidos da Ponte

Em seguida, a escola de São João de Meriti, por meio de uma temática africana: “Liberte nosso sagrado – O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, elaborado pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, tomou conta da Sapucaí. Os desfilantes da Unidos da Ponte estavam visivelmente empolgados, cantaram e evoluíram muito bem e contagiaram o público em muitos momentos.  

Destaques para o canto e a bateria. O intérprete Kleber Simpatia, atuante também no carnaval do Espírito Santo, fez um admirável desfile, uma potência vocal, uma dicção limpa, mantendo a energia lá em cima. A bateria de mestre Branco Ribeiro, que ano passado ganhou o prêmio de revelação, trouxe na fantasia dos ritmistas representando o Zé Pilintra. No refrão: “Eu queria a coroa de Oxum”, os atabaques realizaram um toque especial, além da coreografia. A escola passou colocando muita pressão. Sempre com muito capricho nos figurinos, Lili Tudão, rainha de bateria, encarnou a “Magia Negra” e passou na avenida entregue, com muita alegria e interagiu na hora das bossas.

Os primeiros setores da escola trouxeram a ancestralidade. Thainára Mathias e Emanuel Lima, primeiro casal da escola, apresentaram uma dança sincronizada, elegante e afetiva. Porém, problemas com a indumentária dificultou um pouco a apresentação dos dois. Ainda sim, eles desfilaram representando o “Culto dos Alufás”, em tons escuros e luxuosos. 

O ponto negativo, contudo, foi a roupa da Ala de Passistas que não ficou pronta a tempo, dejavú. No primeiro dia de desfiles (17), por exemplo, a Estácio de Sá passou pela mesma intercorrência. Em contrapartida, os passistas da Unidos da Ponte ficaram de fora do desfile oficial. 

Sem problemas com a evolução, a escola conseguiu encerrar o desfile dentro do tempo determinado.

Unidos de Bangu

Na sequência, a Unidos de Bangu, a terceira escola a pisar na Sapucaí, apresentou o enredo “Aganjú, homenagem a Xangô”. As alegorias grandiosas causaram impacto, em compensação a Unidos demorou para iniciar o desfile, em decorrência de um problema com a acoplagem do carro abre-alas (Império do Senhor do Fogo… A chama da renovação). A alegoria com muitos integrantes não conseguiu acoplar e seguiu assim ao longo da avenida. 

O samba foi muito bem interpretado por Pixulé, conhecido por se identificar por temas afros. O cantor estava trajado de Xangô e defendeu com maestria o canto da escola. Estreando na Comissão de Frente da Bangu, Fábio Costa, que integra também a equipe da Unidos da Vila Isabel, assinou esse trabalho artístico: “A força do vulcão”. A Comissão apresentou a morada de Aganjú, para compor essa performance, onde o personagem principal realizou parte da apresentação, com uma roupa que saía fogos de artifício.

Pelo quarto carnaval consecutivo juntos, o primeiro casal, Anderson Abreu e Eliza Xavier, fez uma exibição com passos afros e uma dança muito expressiva, demonstrando muito entrosamento. 

O ponto negativo do desfile, porém, foi marcado pela evolução que ficou muito comprometida devido ao carro desacoplado. A escola abriu um buraco em frente à cabine de jurados. 

Em Cima da Hora

Quarta escola a desfilar na noite de sábado, a Em Cima da Hora iniciou o esquenta com o samba antológico do saudoso Edeor de Paula, “Os Sertões”, tempos áureos da agremiação. “Esperança, Presente!”, enredo desenvolvido pelo carnavalesco Marco Antônio Faleiros abordou a história da primeira advogada negra do Brasil, Esperança Garcia.  

Na abertura do desfile, a escola expôs o carro abre-alas “O meu canto é por justiça”, demonstrando que Esperança era filha de Xangô. A alegoria descreveu a relação dela com o orixá e justiça por direitos. Leandro Azevedo, que foi coreógrafo da “Dança dos Famosos”, do apresentador Faustão, foi o responsável pela Comissão de Frente. Como não trouxe elementos cênicos, valorizou a dança e a interpretação. 

Um dos destaques do desfile, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jack Gomes e Johnny Mattos, dançando juntos há dois anos, representou “Trovões da Esperança”, com uma fantasia nas cores branco e azul. 

Integrante do carro de som da Beija-Flor, Igor Pitta comandou o canto da escola sem o parceiro Arthur Franco. 

Outro ponto alto, à frente da bateria da escola, após uma temporada na Unidos de Bangu, o mestre Léo Capoeira estava muito seguro no comando dos seus ritmistas que vieram vestidos de Marquês, com uma roupa azul e uma peruca branca de época. Mais uma agremiação com rei e rainha, Jorge Amarelloh e Anny Santos, os dois fizeram uma ótima apresentação com muito samba no pé e ambos com uma fantasia impecável.   

A escola de Cavalcante pecou na plástica, com carros sem destaques e com alas faltando adereços, comprometendo o quesito. Bem compacta, passou dentro do tempo regulamentar. 

Porto da Pedra

Apontadas como favorita ao Grupo Especial, a Unidos da Porto da Pedra chegou com uma comunidade muito forte, na busca pelo título e foi a quinta a se apresentar na noite com o enredo “A invenção da Amazônia: Um delírio do imaginário de Júlio Verne”. 

Uma das promessas do carnaval, Paulo Pinna, coreógrafo da Comissão de Frente, fez com que os integrantes do segmento atuassem com uma dança vibrante e com isso conquistaram o público. O primeiro casal, Rodrigo França e Laryssa Victoria, estreante no cargo, dançou de forma vibrante, com uma bela indumentária representativa do “Capitão Nemo” e “Senhores dos Mares”, nas cores rosa, preto e dourado. 

Os componentes cantaram e evoluíram do início ao fim ao som do intérprete Nego e seus apoiadores. Mestre Pablo, outra grata surpresa, com um figurino guardado a sete chaves, fez sucesso na Sapucaí. Por meio de um desfile leve e descontraído, o Tigre de São Gonçalo passou muito bem e dentro dos 55 minutos. 

União da Ilha

Antepenúltima escola da noite, a tradicional União da Ilha apresentou o enredo “O encontro das Águias no templo de Momo”, homenagem ao centenário de sua madrinha Portela. O samba escolhido para aquecer os integrantes e o público foi do ano de 1998: “Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos” e o samba-exaltação da Portela. Todos eles na voz de Igor Vianna. Com o famoso bordão: “Nunca foi sorte, sempre foi macumba”, o intérprete iniciou o desfile, no entanto o canto da escola não se manteve estável até o final. 

A Comissão de Frente se apresentou com um dos ícones de sua madrinha, a Tia Surica. Sob o comando do Márcio Moura, eles representaram “A benção, dindinha!”. O tripé retratou o altar da realeza. No final da apresentação, os pavilhões da Portela e da Ilha foram homenageados. 

Pensando nos quesitos, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Amanda Poblete e Tiaguinho Mendonça, vestido de “Enamorados”, com uma fantasia de alto nível, nas cores da escola, confeccionada por Leozinho e Pedrão, do ateliê Aquarela Carioca, optou por uma dança clássica.

Na briga pelo campeonato, a agremiação apresentou uma plástica luxuosa, com requintes de detalhes e fantasias bem acabadas, apostando nas cores da agremiação e no dourado. O belíssimo abre-alas “O salão das águias” trouxe a ex-rainha de bateria da agremiação Deise Nunes. Apesar de toda imponência da alegoria, os carros pecaram na iluminação. A Insulana fechou com o último carro trazendo portelenses ilustres, tais como Jerônimo, Lucinha Nobre, Nilce Fran, entre outros ícones. Uma grande homenagem à madrinha e sem muitos erros, a Ilha fez um bom desfile. 

Império da Tijuca

Já com o raiar o dia, o Império da Tijuca deu o pontapé inicial para o desfile. Acostumada a realizar desfiles de excelência com a temática religiosa de matriz africana, a escola do Morro da Formiga apresentou uma Comissão de Frente sem tripés, mas com elemento cênico na mão, representando o xirê, “As cores do Sagrado”, apresentada em três atos.

O primeiro setor da escola foi voltado para a religiosidade. A Comissão de Frente e o primeiro casal, Laís Lúcia e Renan Oliveira, representaram “Orum Ayê na imensidão de Olodumarê”.

Com um samba fácil, Daniel Silva e o carro de som contaram com mulheres no seu grupo de canto, e elas personificaram as três Yabás, Yemajná, Oxúm e Iansã, além da intérprete de libras. A bateria de mestre Jordan cumpriu o seu papel, e os atabaques deram um toque especial. A escola contou e evoluiu muito bem. 

Encerrando os desfiles da Série Ouro, a Caçulinha da Baixada entrou na Sapucaí, com o dia totalmente claro para contar a história das mulheres de barro, desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Milato. Apesar do público reduzido por causa da hora, a comunidade não se intimidou e mostrou a garra da Inocentes de Belford Roxo. 

Juliana Frathane, coreógrafa da Comissão de Frente, mostrou “O sopro de Tupã”, que retrata o mito da criação do homem na tradição Guarani. A dança, com movimentos fortes, transmitiu o recado. Um dos destaques dos desfiles, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jaçanã Ribeiro e Matheus Machado, veio enroupado de “Raios da criação”. Os dois uniram experiência e juventude. 

Retornando à agremiação, o intérprete Thiago Brito conseguiu agitar a comunidade e colocá-los para sambar. O canto e a evolução funcionaram muito bem, assim como a bateria de mestre Juninho, que este ano voltou à Inocentes. Por fim, a parte plástica deixou a desejar. 

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