Eduardo Gabri, amante do surdo de primeira 

Eduardo Gabri, amante do surdo de primeira 

Por Luis Leite

Russo da Estácio nasceu Eduardo Gabry, em Niterói. Atualmente, aos 50 anos, é morador da Tijuca e técnico em telecomunicações. Foi aos 9 anos, em 1976, quando ficava na janela vendo os blocos passarem, que ele percebeu o dom para tocar em uma bateria: pegava as latas de biscoitos de sua mãe e ficava batucando.

Seu primeiro contato com bateria foi em 1982 no centro do Rio, na Banda da Inválidos, tocando tarol. Chegou a diretor de bateria, passando anos mais tarde a direção para o mestre China. Em 1988, foi para escola de samba do coração, a Estácio de Sá, na qual, este ano, completou 30 anos ininterruptos, desfilando na bateria. No entanto, já desfilou pela Unidos do Cabuçu, Viradouro, Rocinha e Paraíso do Tuiuti.

Apesar de ter iniciado tocando tarol, a caixa de guerra e a marcação de primeira são os instrumentos que ele mais gosta de tocar, e ainda tira o som de quase todos os instrumentos.

Russo da Estácio é do tempo em que as bossas não eram utilizadas. As baterias procuravam não se arriscar para não perder pontos. Hoje, no entanto, para ele, são tantos ensaios ao longo do ano que as baterias estão cada vez mais perfeitas.

– Sou da época em que não fazíamos bossas, mas tudo mudou. Bossas podem sim atrapalhar um andamento, mas hoje em dia, são tantos ensaios que essa possibilidade tornou-se remota. Existe integração total entre todos os setores das escolas para que uma bossa, por mais longa que seja, em nada comprometa a evolução e o canto. Ao contrário, acaba contagiando a todos – explicou Russo.

Ainda sim, segundo ele, todo o trabalho que tem sido feito não é bem avaliado pelos jurados, mesmo que seja subjetivo no entendimento deles: – Hoje em dia todas as baterias fazem bossas e, nem sempre, por mais linda e bem executada que seja merecem, por parte do júri, uma nota máxima. Então se eles querem “ousadia”. Se eu fosse diretor, passaria do início ao fim somente no ritmo, como antigamente. Isso seria uma inesperada “ousadia” nos dias de hoje.

Ao longo dos seus 50 anos de experiência, Russo não esquece do desfile da Estácio de Sá em 1990, quando a escola levou para a avenida o enredo “Langsdorff, delírio na Sapucaí”, dos carnavalescos Mário Monteiro e Chico Spinoza. Nesse ano, de acordo com ele, a bateria deu um show com um ritmo alucinante, envolvente e contagiante sem realizar nenhuma bossa.

A sua admiração pelos ritmistas vai ao encontro da dedicação que cada um tem pela a sua escola, pois conforme ele próprio diz, mesmo em tempos difíceis, cada um sabe o quanto tem para doar, desde os ritmistas que saem no Grupo E aos que saem no Grupo Especial. Mesmo assim, ele destaca o Gaúcho, do tamborim da Estácio e os mestres que o regeram como Ciça, Esteves, Marquinhos, Chuvisco e Gaganja.

Projetos para o futuro

Russo da Estácio faz parte de um projeto “Realidade”, que reúne os antigos ritmistas da Estácio, os “Leões do Ritmo”. – A ideia do grupo é manter todos os ritmistas da Estácio frequentando a escola e desfilando por ela. Vem muita coisa boa por aí. O projeto é bem ambicioso, e o presidente Manú está sabendo conduzi-lo com maestria.

Para o nosso Ritmista do OBatuque, o carnaval tem sofrido mudanças e adaptações, porém, de acordo com ele, nem todas são necessárias, mas Russo torce para que essas mudanças não apaguem a essência da festa momesca: – Os desfiles das escolas de samba, nos últimos anos, sofreram diversas mudanças e adaptações, umas necessárias outras nem tanto. Espero que toda essa modernidade e ousadia, não só nas baterias, mas nas escolas de samba em geral, não apague a essência do verdadeiro carnaval: a emoção – finalizou Russo.

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