Chacal do Sax, da MPB e do samba-enredo

Chacal do Sax, da MPB e do samba-enredo
Foto: arquivo pessoal

Por Wander Timbalada
Fotos: arquivo pessoal

Aos 38 anos, criado no Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio, Jonathan Fernandes Vieira, mais conhecido como Chacal do Sax, iniciou sua carreira com 16 anos no Colégio Interno Casa do Pequeno Jornaleiro, onde ali que fez o seu primeiro contato com a música. Durante esta entrevista, Chacal fala de grandes talentos musicais, das desigualdades em relação às oportunidades não oferecidas a esses músicos promissores, de sua trajetória como compositor de samba-enredo e do sonho de um dia eternizar essa obra em uma escola de samba.

OBatuque.com – Como você vê a questão de novos talentos musicais na nossa MPB em relação a grandes nomes que fizeram a nossa música ser admirada e respeitada no cenário mundial?

Chacal – Eu vejo muita gente boa aí no mercado da MPB, uma rapaziada que sempre vem com humildade. Não só homens como mulheres de muito talento. Vários musicistas que também estão se destacando e sempre respeitando os mais velhos, fazendo com que a música seja cada vez mais valorizada e respeitada, mostrando também para todos que é possível, sim, viver de música. É difícil, mas não impossível. Vejo uma safra muito boa surgindo no cenário musical.

OBatuque.com – Como você avalia as oportunidades dadas a um compositor para gravar uma música com um artista? É fácil, difícil ou desigual? Na tua opinião, é preciso dar espaço a todos de uma forma única, independentemente de ser novo ou já conhecido?

Chacal – A questão da oportunidade para se gravar com artistas, tem que haver um conhecimento. Eu acho sim que todos tinham que ter uma oportunidade, pois tem muita gente boa aí, que não é vista, com composições maravilhosas, mas precisa ter uma estrada, tem que ter uma história para poder chegar, senão não consegue. É realmente difícil. Em relação à desigualdade, é o seguinte: os compositores que já têm nome, sempre serão vistos com outros olhos em relação aos mais novos, acho isso natural, até porque quem já tem uma história com vários sucessos gravados terá uma atenção diferenciada.

OBatuque.com – Como você se integrou como compositor a uma escola de samba e o que o Chacal destaca de positivo e negativo?

Chacal – Eu sempre gostei de samba-enredo. Eu sou cria lá do Lins de Vasconcelos, bairro do Rio de Janeiro, onde há duas escolas de samba: Lins de Vasconcelos e a Cabuçu. Eu já ganhei samba tanto na Cabuçu quanto na Lins. Escolas, que na época, estavam até na série B ou C, não me recordo bem e comecei mesmo a me aprofundar depois da pandemia. O cara que eu sou muito fã e que sempre me ajudou muito e me ajuda até hoje chama-se Mingal, que um grande compositor que tem vários canecos por aí, vários sambas gravados de sucesso no carnaval. Experiência negativa… Nada que me marcou. A gente sabe que numa disputa de samba-enredo ou você ganha ou você perde. Esse é o caminho da competição, não tem jeito.

OBatuque.com – Você acha certo o nome de um compositor ter influência durante um concurso de samba-enredo?

Chacal – Em relação ao nome do compositor influenciar na obra, eu acho que o que vale é a obra e não o nome, até porque tem vários compositores de nome que nem sempre acertam a mão. Pode ser que ele acerte mais do que erre. Às vezes não acerta e tem um cara ali que chegou agora e acerta a mão em cheio e leva o título. Inclusive eu, ano passado, tive a felicidade de ganhar na Unidos de Padre Miguel. Foi a primeira vez que escrevi samba lá (Unidos de Padre Miguel) e no mundo da composição de samba-enredo. Eu era um zero à esquerda, ninguém me conhecia, e na disputa havia vários nomes consagrados campeões de vários sambas-enredos e aí eu mais uma vez digo: tem que ser pela obra.

OBatuque.com – Você acha que torcida tem que ser critério para julgamento dentro de um concurso de sambas-enredos?

Chacal – Torcida não tem que ser critério, porém torcida faz parte da festa. A torcida torna a festa mais brilhante, e todos têm as suas: uns menos, outros mais. Hoje em dia, tem essa coisa de se contratar torcida de fora, que ajuda dentro desse contexto, mas eu acho que a torcida nunca deveria influenciar no julgamento do samba-enredo.

OBatuque.com – Qual a tua visão dos sambas antológicos, que até hoje fazem sucesso em festas, shows e grandes eventos musicais, em relação aos sambas atuais?

Chacal – Os sambas antológicos, que até hoje são sucesso, provam o quanto o samba é magnífico e maravilhoso. O samba marca, ele não fica velho nunca, entendeu? Inclusive até nos meus shows eu toco muitos sambas-enredos e sambas antigos que marcaram época, então tenho uma admiração total por esses compositores, que fizeram sambas que marcaram história. Até hoje, eu tenho um sonho de um dia poder fazer um samba assim, que ficará marcado por décadas e anos.

OBatuque.com – Um nome como referência no carnaval que deveria ser eternizado pela sua trajetória.

Chacal – Neguinho da Beija-Flor. O cara que é muito meu amigo, que tem uma história linda no samba, o primeiro artista a me dar oportunidade, um cara que eu acompanhei de perto, e sei da história dele. Onde ele chega, as pessoas sabem que é o Neguinho da Beija-Flor, sempre levando e elevando o nome da escola, tanto no Brasil quanto fora. Portanto, pra mim, um nome como referência se chama Neguinho da Beija-Flor.

OBatuque.com – Um ídolo musical.

Chacal – Na verdade, eu não tenho só um ídolo, né? Tenho alguns brasileiros. Eu sou muito fã do Djavan, Elymar Santos, que faz um show maravilhoso, e eu o admiro muito. Sou fã também do Alexandre Pires, do Xande de Pilares e do Ito Melodia. Esses são os artistas que eu procuro pegar um pouquinho de cada um pra fazer um show bacana.

OBatuque.com – Uma mensagem para o povo brasileiro.

Chacal – Uma mensagem que eu deixo pro povo brasileiro é pedindo mais amor, mais respeito, que respeite o próximo, que respeite a nossa cor, que respeite a nossa religião, que respeite a nossa sexualidade e o mais importante que se tenha muito amor pelo próximo independente da raça, da cor, da região, da sexualidade. O que importa é amar o próximo. É o que eu peço ao povo brasileiro.

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