Unidos de Padre Miguel, Estácio de Sá e São Clemente são destaques no primeiro dia de desfiles do Grupo da Série Ouro

Unidos de Padre Miguel, Estácio de Sá e São Clemente são destaques no primeiro dia de desfiles do Grupo da Série Ouro

Lins Imperial e Arranco enfrentaram problemas durante seus desfiles

Por Luis Leite e Angélica Zago

Com a aberta da temporada de desfiles na Marquês de Sapucaí, a Série Ouro iniciou a noite de sexta-feira (17) com a apresentação de 7 escolas de samba: Arranco do Engenho de Dentro, Lins Imperial, Vigário Geral, Estácio de Sá, Unidos de Padre Miguel, Acadêmicos de Niterói e São Clemente.

Abrindo o desfile e de volta à Sapucaí após 10 anos de afastamento, o Arranco do Engenho de Dentro pisou na Passarela com o enredo “Zé Espinguela – Chão do meu terreiro”, em homenagem a um dos fundadores da Mangueira. A Azul e Branco apresentou uma plástica simples e de bom gosto. A escola enfrentou alguns problemas durante sua apresentação com o abre-alas e a última alegoria causando um enorme buraco no setor 3. A falta de canto entre algumas alas deixou a desejar.

Por outro lado, o ponto forte da agremiação ficou por conta da comissão de frente comandada pelo coreógrafo Fábio Batista, que também integra a direção artística da Estação Primeira de Mangueira. Os integrantes representaram “Espinguela-sagrados carnavais, dos barracos e barracões e apresentaram-se em três atos: a relação de Espinguela com as ruas e morros, com o sagrado e o seu legado.

A agremiação, comandada por mulheres, teve Pâmela Falcão, única intérprete feminina do grupo, dividindo o microfone com o experiente Diego Nicolau. Com algumas personalidades do carnaval, a escola trouxe Lucinha Nobre, porta-bandeira da Portela, Gabriel Castro, diretor da Ala de Passistas da Vila Isabel, Fábio Batista, integrante da Estação Primeira de Mangueira.

Lins Imperial

Segunda agremiação a cruzar a Avenida, a Lins Imperial trouxe o enredo “Madame Satã – Resistir para existir”, uma releitura contemporânea do tema apresentado no Carnaval 1990, que homenageou João Francisco dos Santos, o Madame Satã, um dos personagens mais representativos da vida noturna da Lapa do século XX. A escola iniciou o seu desfile com problemas de acoplagem em sua segunda alegoria, ainda na área de armação. E por isso, o carro não participou do desfile e precisou ser rebocado.

Mesmo assim, o presidente Flávio Mello fez um discurso emocionado, dizendo que a Lins também é celeiro de bambas, que os problemas acontecem, mas que os integrantes, por outro lado, cruzassem a Passarela com muita garra. 

Em seu histórico em tributar personalidades negras, o samba-manifesto em homenagem a Madame Satã, de autoria de Paulo César Feital, teve no comando do carro de som a dupla de jovens intérpretes Rafael Tinguinha e Lucas Donato que mantiveram o canto ao longo do desfile.

A Lins Imperial trouxe uma plástica muito colorida, com sua comunidade cantando o samba muito bem sob a bateria regida por mestre Átila. Os ritmistas fizeram uma ótima apresentação, com direito a coreografia, entretanto pecou em harmonia com uma evolução mais corrida no final do desfile e alguns buracos entre as alas. Apesar dos contratempos, a Lins terminou o desfile dentro do tempo regulamentar.

Acadêmicos de Vigário Geral

Iniciando a terceira apresentação com o enredo “A fantástica fábrica da alegria”, a Acadêmicos do Vigário Geral mostrou um tema lúdico, com personagens infantis ao longo do desfile. A bateria vestida de Chapolin Colorado remeteu ao público mais velho o imaginário de ser uma criança.

À frente da bateria, Egili Oliveira reinou com fantasia representando “a rainha da alegria”. A rainha deu um show de samba no pé e elegância. 

No decorrer do desfile, Tentenzinho, intérprete oficial da escola, fez um esquenta inédito ao cantar “Balão Mágico”, música do programa infantil produzido pela ‘TV Globo’ e exibido de 7 de março de 1983 até 28 de junho de 1986, apresentado por Fofão e Simony.

A escola fez um desfile leve e brincou o carnaval e, sobretudo, trouxe uma comissão de frente, sob a coreografia de Anderson Big, que durante muitos anos integrou a comissão da Imperatriz Leopoldinense. Os componentes do segmento personificaram atores do filme “Fábrica de Chocolate” utilizando como modelo latas de lixo da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) com mensagens de amor, magia, entre outras, mexendo com o imaginário do público.

Durante todo o desfile, a Vigário apresentou uma plástica simples, porém, apesar do samba fácil de cantar, a escola não contagiou o público mesmo depois do esquenta.

Ao decorrer do desfile, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, fez uma boa apresentação, no entanto, em um dos módulos de julgadores, os dois não conseguiram fazer com que a bandeira enrolasse durante a sua performance. A indumentária do casal representava “Vigário Geral, fonte de alegria”, nas cores da agremiação.

Estácio de Sá

Lodo a seguir, a primeira escola de samba do Brasil, a Estácio de Sá, sempre muito esperada na Passarela do Samba, veio com o enredo “São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração”. A agremiação finalizou a sua apresentação faltando alguns segundos para o tempo regulamentar. 

Por outro lado, antes de iniciar o desfile, Tinganá, intérprete oficial da escola, esquentou a Marquês de Sapucaí com o samba campeão de 1992, “Paulicéia Desvairada”, e deixou a comunidade do morro de São Carlos em modo on. Sem demora, Edvaldo Fonseca, diretor de Carnaval, discursou de forma potente e emocionado, motivando assim os componentes.

Ao longo do desfile a comissão de frente, comandada pela coreógrafa Ariadne Lax, realizou o cortejo sagrado com aspectos de um folguedo popular. 

Na sequência do desfile, a 1ª porta-bandeira, Alcione Carvalho, disse que a emoção é sempre de uma estreante. Complementando a dupla, Feliciano Júnior, que já deu plantão no Grupo Especial pela Mocidade Independente de Padre Miguel, usando a fantasia “A arte bordada”, trouxe na indumentária muitas cores nas plumas. Bem entrosados, os dois fizeram uma bela apresentação. 

E para embalar a Sapucaí e a própria escola, a bateria de mestre Chuvisco, discípulo de Ciça, veio inserida no setor que comemora a festa de São João, simbolizando os vaqueiros e sua forte presença nos festejos com a característica de um ritmo mais acelerado. 

Entretanto, um problema que começou bem antes da chegada no Sambódromo, continuou até o fim do desfile: a Ala de Passista passou incompleta. A roupa não chegou a tempo. Elas protestaram pelo ocorrido, e desfilaram de shorts, tops e biquínis, riscando a pista com muita garra e samba no pé.

Unidos de Padre Miguel

Quinta escola a desfilar, a Unidos de Padre Miguel pisou na Sapucaí com o enredo “Baião de Mouros”. O Boi Vermelho da Vila Vitém retratou a influência árabe, moura e muçulmana no Nordeste brasileiro, com um cruzamento de histórias até onde nasce o Rei do Baião.

A comunidade mostrou que está na briga pelo título. Com alegorias grandiosas e fantasias luxuosas impressionam o público nas arquibancadas.

O experiente intérprete Bruno Ribas, que fez sua estreia na agremiação, comandou de forma muito potente o carro de som, não deixando o canto cair durante todo o desfile. 

Esperada por trazer sempre muito luxo, a Unidos não decepcionou, trouxe uma escola opulenta, requinte nos detalhes dos adereços e alegorias e muitas cores.

A comissão de frente, do coreógrafo David Lima, trouxe o “Encantador de Serpentes”, com uma performance bem executada e um tripé luxuoso.  

Ainda assim como o coreógrafo, juntos há 10 anos, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, apresentou um bailado elegante e sincronizado, além da elegância na indumentária. 

Apesar de tudo isso, a agremiação apresentou um problema no carro abre-alas na área de término de desfile (dispersão), e por isso, antes de cruzar a linha de chegada, a escola teve que correr para finalizar o desfile dentro de 55 minutos e 54 segundos.

Acadêmicos de Niterói

Estreante no carnaval do Rio de Janeiro, Acadêmicos de Niterói, a caçulinha da Série Ouro, foi a penúltima escola a fazer a sua apresentação. Com o enredo “O Carnaval da Vitória”, a escola exaltou os festejos niteroienses como marco carnavalesco à cidade de Araribóia. Um enredo construído a muitas mãos. 

O carro abre-alas imponente representou o “Orgulho do meu lugar, sob o olhar de Araribóia”, com os componentes simbolizando os foliões nas ruas de Niterói.

A comissão de frente representando “O caminho para a alegria está na folia da Cidade Sorriso”, sob o comando do coreógrafo Carlos Fontinelle, não trouxe um elemento cênico, por outro lado, o segmento optou por uma apresentação mais livre, regado à dança. A saia dos integrantes e o guarda-chuva chamaram a atenção na hora da exibição.

Cria da Estação Primeira de Mangueira, Giovana Justus e Fabrício Oliveira formaram o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Os dois apresentaram uma dança clássica e tradicional com uma indumentária nas cores da agremiação.

No transcorrer do desfile, a bateria do mestre Demetrius Luiz passou com um andamento mais acelerado, ideal para o horário em que a escola desfilou. E com isso, casou com o estilo do intérprete Danilo Cézar, estreante no grupo, e passou muito bem.  

Finalizando o desfile, o último carro homenageou as escolas de Niterói, Unidos do Viradouro, Acadêmicos do Cubango e Acadêmicos do Sossego.

São Clemente

Sétima e última escola da noite, no primeiro dia de desfiles da Série Ouro, a Amarela e Preta de Botafogo, a São Clemente, fez uma viagem ao tempo e contou com sua irreverência carnavalesca para apresentar o enredo “O Achamento do Velho Mundo” à Sapucaí. Na briga pelo título, a escola chegou com força no solo sagrado.

Estreante na comissão de frente, o humorista Adnet, um dos intérpretes, já assinou diversos sambas do grupo. A comissão desenvolvida por Lucas Maciel chegou com muita irreverência, promovendo assim o encontro entre a cultura nativa pindorama e a cultura europeia, com nativos misturando referências cotidianas do passado e dos tempos atuais. O coreógrafo estreou na São Clemente e também atua pela Paraíso do Tuiuti.

De volta ao carnaval, o experiente casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphaela Caboclo e Alex, veio representando Jaci e Guarani (Sol e Lua), com um bailado sincronizado e a roupa nas cores da escola. 

No desenrolar-se do desfile, os integrantes cantaram e evoluíram muito bem, em especial com musas bem vestidas e uma distribuição de cores pelos setores da escola, e que a deixou visualmente mais alegre e colorida. 

Outro destaque do desfile, foi mestre Caliquinho, cria do Morro Santa Marta. Ele treinou seus ritmistas no projeto que desenvolve na comunidade, dando oportunidade aos batuqueiros de casa, e conduziu a bateria de forma leve, brincando… Leozinho Nunes, uma das referências da escola, segurou o canto da agremiação e, junto com os integrantes do carro de som, fez com que a São Clemente finalizasse o desfile dentro do tempo, sem problemas aparentes. 

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