Veja como foi a primeira noite de desfiles do Grupo Especial na Sapucaí

Sistema de som do Sambódromo teve problemas na passagem de três das quatro agremiações
A primeira noite dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí foi marcada por temáticas que exaltam a cultura afro-brasileira e figuras históricas de resistência. A abertura ficou a cargo da Unidos de Padre Miguel (UPM) seguida da Imperatriz Leopoldinense, Viradouro e Mangueira.
Na estreia de um novo formato, esse ano as 12 principais agremiações foram divididas em três dias consecutivos, aumentando o limite de tempo de 70 para 80 minutos. Por outro lado, o ponto negativo ficou em razão do sistema de som da Avenida que falhou diversas vezes durante as apresentações, deixando o público insatisfeito. Um problema crônico que se arrasta ao longo do tempo que precisa ser revisto.
Com a missão de abrir o Carnaval deste domingo (2), após 52 anos longe da elite carioca, a Unidos de Padre Miguel trouxe o enredo ‘Egbé Iya Nassô’, que retratou a trajetória da africana e ex-escrava Francisca da Silva, fundadora do Candomblé no Brasil e do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, Bahia no século 19. O templo continua em funcionamento até hoje.
O Boi Vermelho da Vila Vintém levou para Sapucaí um conjunto de alegorias imponentes entre eles, o abre-alas composto por três carros acoplados com 118 esculturas frontais, representando a importância do império de OYó, além das fantasias volumosas com uma paleta de cores vibrantes.
UPM faz desfile emocionante

A comissão de frente composta por 25 bailarinos contou com dois momentos diferentes em sua exibição: no solo, a dança sagrada de Ayrá sob a proteção de escudos em forma de búzios. E a segunda parte, o surgimento das mães de santo sobre um tripé evocando a espiritualidade em conexão com os orixás.

O elemento surpresa, se deu quando um componente simbolizando Xangô com machados nas mãos surgia de dentro de uma coroa erguida por meio de um elevador.
O protagonismo feminino também foi destaque na bateria “Guerreiros”, de mestre Dinho, tendo 40 mulheres ritmistas tocando em todos os naipes.
No entanto, a escola enfrentou problemas no início do seu desfile por conta da falha técnica no carro de som comandado pelo intérprete Bruno Ribas comprometendo a perda de pontos em alguns quesitos.
Apesar de não conseguir uma boa comunicação com o público, o canto carregado de emoção foi contínuo durante todo o cortejo tendo como refrão o principal o verso: “Vila Vintém é terra de macumbeiro”, ecoando por todo Sambódromo.

Estreando no posto de rainha, Andressa Marinho, surgiu com um visual careca e fantasia prata retratando uma filha da resistência durante o período da Revolta dos Malês.
Imperatriz transborda o axé – A cor branca foi predominante

Segunda a desfilar, a Imperatriz Leopoldinense levou para avenida o enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – água fresca para o Senhor de Ifón”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira, reconhecido por trazer temas religiosos.
O mito iorubá, narra a visita de Oxalá ao reino de Xangô, em OYó, na qual destaca em sua jornada os obstáculos enfrentados pelo orixá após ignorar os conselhos de um babalaô e recusar-se a fazer uma oferenda a Exu. No final, acabou sendo vítima de uma prisão injusta.
De forte impacto visual, a Rainha de Ramos apostou em fantasias e alegorias luxuosas explorando bastante o branco com os demais efeitos especiais exibidos ao longo do desfile.

O elemento cênico que integra a comissão de frente chamou atenção pelo uso de fontes de água jorrando entre os dançarinos, que durante a performance simulavam o banho de Oxalá como forma de purificação.
Um dos pontos altos foi a evolução e o canto forte dos componentes de maneira harmônica, assim como a bateria comandada pelo Mestre Lolo, remetendo bossas ao som de atabaques e agogôs.
Outro momento surpreendente na passagem da Verde e Branca, foi a comemoração generalizada dos foliões com a vitória do Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional. A festa tomou conta das arquibancadas, frisas e camarotes do sambódromo.

À frente da Swing da Leopoldina, Maria Mairá cruzou a Sapucaí com um figurino cheio de búzios e cristais representando o sal. Com apresentação arrebatadora, a escola se credencia na luta pelo titulo.
Viradouro incendeia a Sapucaí
Chapéus levitando e holograma também foram destaques

Em seguida, foi a vez da atual campeã Unidos do Viradouro, ao contar a história de “Malunguinho – O Mensageiro de Três Mundos”, que viveu no quilombo do Catucá, zona da mata de Pernambuco no século XIX e se tornou uma entidade religiosa afro-indígena, por manifestar de três formas diferentes: Exu Trunqueiro, Mestre e Caboclo.
Mantendo o alto nível com uma estética inovadora dialogada ao enredo, a Vermelha e Branca de Niterói acendeu tudo que pode acender, mas faltou a explosão por parte da comunidade.


A comissão de frente impressionou os jurados e a plateia por utilizar chapéus voadores com o auxílio de drones e efeitos de fogo, tanto real quanto cenográfico em cima do tripé.

Além disso, o segundo carro também contou com artifício da tecnologia: a chave do cativeiro projetada em holograma criando um movimento rotativo, alusão o simbolismo da libertação.

Já a quarta alegoria intitulada de “Trago a força da Jurema”, trouxe Malunguinho tomando a bebida feita das ervas sagradas. No mesmo veículo, foram utilizados 3 mil litros de água com essência de flores perfumando toda a passarela do samba.
A musa Lore Improta, protagonizou uma cena inesperada ao escorregar e cair em frente a um dos módulos de jurados durante o desfile. Apesar da queda, a dançarina se levantou rapidamente e continuou sua ostentação, sendo aplaudida pelas arquibancadas.

A rainha de bateria Erika Januza, usou um traje dourado inspirado no pássaro carcará. Conforme a beldade sambava, a fantasia soltava uma fumaça branca tornando-se uma das principais atrações.