Grande Rio divulga fantasias para 2025
A Grande Rio divulgou partes de suas fantasias para o carnaval de 2025, quando cantará, na Marquês de Sapucaí, o enredo “Pororocas Parawaras – as Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”. Concebidos pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, os figurinos ocuparam o espaço imersivo “Mar de Espelhos”, no AquaRio. As fotos do ensaio “Mergulho no Espelho do Encante” foram realizadas por Custódio Coimbra e Joana Coimbra, os mesmos artistas responsáveis pelo material de divulgação das fantasias do desfile da Grande Rio de 2022, que celebrou as energias de Exu. Haddad explica a continuidade da parceria e a proposta deste novo ensaio:
“Custódio e Joana possuem um olhar muito interessante, poético e não-óbvio. Isso nos interessa muito, pois permite que brinquemos com as roupas, que dão cores e formas a uma narrativa de enredo também não-óbvia. A ideia do ensaio não é revelar as roupas da forma como irão para a Avenida, nos moldes do que fazemos para o Livro Abre-Alas. Algo mais formal, voltado para o julgamento. Pelo contrário: a ideia é que as fotos de Custódio e Joana desafiem o olhar do público, aguçando a curiosidade e contribuindo para a construção de uma atmosfera. Não são fantasias completas, o jogo começa aí. Misturamos peças, ocultamos elementos. Queremos mais a insinuação do que a revelação, uma espécie de caleidoscópio. O enredo é mágico e nos leva ao mistério, aos movimentos de barras de saias e margens de rios, reflexos e profundidades. Algo muito sensorial. Por isso falamos em “Mergulho no Espelho do Encante” e evocamos a energia das águas da Amazônia. A sensibilidade precisa estar aflorada.” – finaliza o carnavalesco.
Leonardo Bora reforça o caráter experimental deste ensaio, que contou, ainda, com a produção de vídeo de Ewerton Pereira. Ele destaca que a proposta é a continuidade de uma série de ações realizadas em parceria com outros artistas:
“O enredo “Pororocas Parawaras”, concebido e desenvolvido em parceria com a artista paraense Rafa BQueer, permite que a gente mergulhe num universo extremamente rico. Na visão fantástica da narrativa, as Princesas Turcas, que se confundem com as pororocas do Pará, atravessam os Portais da Encantaria, em alto mar, e conhecem uma explosão de vida no interior da floresta, no barro dos igapós, no “fundo do igarapé”, como canta o samba escolhido – que tem, entre os seus autores, o Mestre Damasceno. Elas se transformam em animais de poder, bailam em Pajelanças e Candomblés, são cultuadas nas giras de Tambor de Mina, viram tema de Carimbó. É algo muito vivo e fluido, orgânico, dinâmico. E só é possível vivenciar essa riqueza a partir do diálogo com o território – por isso a parceria com artistas paraenses é fundamental. Andreia de Vasconcelos, que vestiu parte de uma fantasia que expressa o Carimbó, é paraense, idealizadora do Grupo de Carimbó Aturiá, pesquisadora e professora de danças e ritmos amazônicos. João Victor, que “navegou” em um barquinho cujo nome homenageia Dona Onete, autora de “Quatro Contas”, é paraense, designer, ilustrador, artista visual e criador da marca Pink Boto. Essa troca de saberes e energias começou na pesquisa do enredo, quando entrevistamos dezenas de mestres e lideranças religiosas, passou pela feitura do filme de divulgação, realizado pelo cineasta Vitor Souza Lima, pela gravação de um EP inédito, com “doutrinas encantadas” e um carimbó composto por Jane Cerdeira e Marcelle Almeida, e continua se desdobrando.” – completa o artista.
Um dado curioso, que chamou a atenção de todos, é que um dos espaços do “Mar de Espelhos” tem o nome “Pororoca” e é descrito como uma interação que “simula o desdobrar do nosso reflexo, das várias versões de nós mesmos refletidas nas ondas.” Haddad ressalta que “é isso o que podemos esperar da Grande Rio: uma onda de alegria!”
Além da parceria com o Mar de Espelhos do AquaRio, a escola realizou um ensaio fotográfico em seu barracão, na Cidade do Samba. O fotógrafo Ademir Júnior, colaborador de Bora e Haddad desde 2017, registrou todas as fantasias do desfile de 2025 – imagens que irão compor o Livro Abre-Alas. Nessas fotos, as roupas estavam completas. A experimentação, no entanto, também se fez notar, como informa Haddad:
“Mesmo no ensaio realizado no barracão, que em geral é mais tradicional, propusemos toques especiais. O cenário-base foi pensado como grande colcha de retalhos, sobre a qual se derramava um móbile composto por 2 mil garrafinhas preenchidas com líquidos coloridos – uma referência sutil ao trabalho das erveiras do Ver-o-Peso, mercado onde são vendidos itens para os rituais do Tambor de Mina. Algumas bancas e lojas, inclusive, levam o nome das Princesas – elas estão em tudo. Ao lado dessa colcha, construímos uma caixa com espelhos, dentro da qual algumas fotos desconstruídas foram realizadas. É um recurso antigo e fascinante, que pode ser conferido nas fotos do Júnior” – finaliza o artista.